Nos Estados Unidos, cerca de dois mil casais por ano
usam a Disney como salão de festas para o enlace matrimonia

Maior dramaturgo francês de sua época, o filósofo iluminista François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, versou certa vez: "O casamento é a única aventura ao alcance dos covardes." Três séculos se passaram e, se estivesse vivo, o autor da peça Édipo poderia rever seus conceitos. Casar ainda pode ser considerado uma aventura. Ultimamente, porém, está ao alcance de gente pra lá de corajosa – e, claro, com algum dinheiro no bolso. No Brasil, já há empresas que oferecem opções de enlace longe de um templo sagrado e ainda assim próximo de Deus: em um vôo de balão, em um salto de pára-quedas ou ao lado de um vulcão.

"No segundo semestre, ofereceremos casamento em um mergulho em alto-mar", afirma Pierre Schurmann, presidente da A Vida é Bela, que, no Brasil, dispõe há um ano de casamento exóticos. Na Rússia, a empresa casou pessoas em um vôo de gravidade zero dentro de uma aeronave. O pacote custa cerca de R$ 28 mil. Há também a possibilidade de uma cerimônia numa nave espacial em órbita. A viagem dura de oito a dez dias e sai por R$ 54 milhões.

Nos Estados Unidos, mais de 500 mil casais por ano escolhem dizer "sim" de forma inusitada. Lá, acontecem cerca de dois mil casamentos anuais na Disney, onde a noiva desce da carruagem da Cinderela, é recepcionada pela Fada Madrinha, escolhe o Mickey e a Minie como padrinhos e dança valsa, na festa, com outros personagens de Walt Disney. Se o noivo entrar no espírito, será o "Pateta" a bancar o custo: de R$ 8 mil a R$ 40 mil.

No Brasil, a Royal Caribbean lançou recentemente o programa Explore Weddings. Nele, a troca de alianças pode ser feita num dos portos de parada do Liberty of the Seas, o maior navio do mundo, ou a bordo de outro cruzeiro. Assim, o casamento-aventura ganha como salão de festas as geleiras do Alasca, um castelo medieval ou uma floresta tropical. "Nos Estados Unidos, casamentos exóticos são realidade. O europeu começa a aceitar bem esse tipo de oferta. O brasileiro tem o perfil de viajante, aquele que participa, e não do turista, do que só contempla, por isso o mercado é promissor", explica Ricardo Amaral, diretor da Sun&Sea, representante no País da Royal Caribbean.

A escritora carioca Thalita Rebouças, de 32 anos, casou sob o balanço do mar, na Baía de Guanabara (RJ), em 2002. Com R$ 14 mil, alugou um iate de três andares, com piscina e tapete vermelho. E convocou um pastor, um bufê, um violinista e 200 convidados para testemunharem seu enlace com o fotógrafo Carlos Luz, ao pé do Pão-de-Açúcar. "O meu casamento, modéstia à parte, foi o melhor que eu fui até hoje", diz Thalita, que teve como pano de fundo um pôr-do-sol carioca às 18h. "Todo mundo casa tão igualzinho. Não tem a ver comigo. Escrevo para adolescentes, tenho uma adolescente dentro de mim."

DIFERENTE Thalita (acima) alugou um iate e Juliana
casou segurando a foto do noivo, que estava em outro país

Ela conta que o violinista esqueceu de tocar a música de entrada da noiva e o cameraman ficou bêbado, tudo por conta do visual. E garante: "Ninguém ficou enjoado, a banqueteira disse que foi a festa em que menos se quebrou copo e, ainda hoje, todo mundo lembra do casamento. Tenho o maior orgulho."

Mais exótico do que casar no meio do mar, no ar ou entre geleiras é dizer "sim" à noiva sem beijá-la nem trocar alianças. Foi o que ocorreu com o paulista Paulo Santoni, 23 anos. Às 10h do dia 11 de janeiro, ele estava trabalhando no bar de um hotel em Bournemouth, a duas horas e meia de Londres. Nesse exato momento, a 9,5 mil quilômetros dali, em um cartório de São Paulo, sua noiva, Juliana Gonzaga Santoni, 27 anos, de vestido branco, firmava o casamento com Paulo abraçada a uma foto dele: "O juiz até brincou e disse a Juliana: ‘Agora, você pode beijar o noivo.’ E aproximava minha foto dela."

Paulo tem cidadania portuguesa e estava na Inglaterra desde agosto de 2006. Juliana não conseguia visto e, depois de casar à distância, tornou-se dependente de um europeu. Hoje, divide lá um apartamento com o marido, que já pediu a residência britânica para a esposa. "Na manhã do meu casamento, eu brindei tomando uma cerveja com um amigo no hotel. E só", conta Paulo. "Em São Paulo, houve comemoração e eu não estava presente. Quer dizer, tinha lá a minha foto! Enquanto a noiva fazia festa, o noivo trabalhava. Isso é covardia!"