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CONTRA A VERDADE 
O advogado Pedro Calmon Mendes insiste em negar fatos que ele mesmo protagonizou

 

 

O advogado Pedro Calmon Mendes parece ter compulsão por contradizer os fatos, mesmo aqueles nos quais atuou como protagonista. Há duas semanas, ele tentou desmentir o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que da tribuna do Senado informou ter feito pagamento de R$ 100 mil à jornalista Mônica Veloso, cliente de Calmon Mendes. O dinheiro, segundo explicou Renan, constituiria um fundo para assegurar a educação da filha que teve com a jornalista numa relação extraconjugal. “Não existe um fundo para a educação ou para a cultura da menina. Não foi isso. O pagamento foi feito para complementar os valores de pensão alimentícia”, disparou o advogado, em entrevista para a imprensa de todo o País, depois de encerrado o discurso do senador. O advogado foi desacreditado em menos de 48 horas, quando vieram a público dois recibos de R$ 50 mil, datados de 24 de maio e 27 de junho de 2006. Os documentos são claros ao mencionar que as parcelas constituíam “doação destinada à constituição de um fundo para prover futuras e eventuais despesas da aludida menor pertinentes ao aperfeiçoamento de seu desenvolvimento cultural”. Os recibos estão assinados pela jornalista Mônica Veloso e por seu advogado, Pedro Calmon Mendes. Desmascarado pelos fatos, saiu-se com a versão de que os recibos eram apenas uma simulação proposta pelos advogados de Renan.

Na semana passada, Calmon Mendes insistiu mais uma vez em travar uma luta inglória contra os fatos. Na segunda-feira 4, ele procurou desacreditar a reportagem de ISTOÉ que reproduziu diálogos da jornalista Mônica Veloso com o senador Renan Calheiros e com o lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo. As conversas foram gravadas pela própria jornalista, mas o advogado disse que era tudo mentira, tanto a existência das gravações quanto os próprios diálogos, e ameaçou processar a revista. Os diálogos em parte reproduzidos por ISTOÉ foram armazenados em cinco CDs. Cada um desses CDs foi analisado pelo perito Aidano Faria, um dos mais conceituados de Brasília, entre os dias 9 de dezembro de 2004 e 6 de janeiro de 2005. São cinco laudos que somam 113 páginas. Os cinco são assinados pelo perito Faria, que também rubrica cada uma das páginas. E mais: o texto inicial de cada laudo não deixa nenhuma dúvida sobre quem pediu as perícias: “O abaixo assinado, Aidano Faria (…), teve a honra de ser consultado pela empresa PEDRO CALMON E ADVOGADOS ASSOCIADOS S/C, nas pessoas de seus sócios titulares Drs. Pedro Calmon, OAB-DF 1.294 e Pedro Calmon Filho, OAB-DF 11.678, para os fins de proceder a degravação de um CD, logo a seguir identificado”. Ou seja, foi o próprio Calmon Mendes que encaminhou os CDs ao perito.

PABLO VALADARES/AE

 

 

PIVÔ Mônica Veloso teve filha de Renan

 

 

 

No dia 9 de dezembro de 2004, Aidano Faria periciou o CD “marca Maxell, CD-R, 80 min, 700 MB”, com o título “CLAUDIO JANEIRO”. Contém conversas de Mônica com Cláudio Gontijo. Ao final, diz Aidano: “Para todos os fins periciais relevantes (…) a gravação pode ser considerada autêntica e isenta de qualquer emenda ou anormalidade.” A autenticidade dos diálogos não foi comprovada apenas pela perícia, mas também pelos envolvidos. Procurado por ISTOÉ, Cláudio Gontijo reconheceu que as conversas reproduzidas pela revista, de fato, existiram. O segundo laudo, concluído no dia 13 de dezembro de 2004, refere-se ao conteúdo do “CD nº 042202310-A”, identificado como “MÔNICA 3 E RENAN JANEIRO, 1ª CONVERSA”. Os personagens são Renan, Mônica, Gontijo e uma quarta pessoa não identificada. Há algumas conversas sobre assuntos políticos e, principalmente, sobre a gravidez. Renan também confirma a veracidade das conversas transcritas: “Reconheço os diálogos”, afirmou a ISTOÉ. Ao final do seu laudo pericial, o perito afirma: “A gravação pode ser considerada autêntica.” Na semana passada, Faria evitou dar entrevistas, mas disse a um interlocutor que, se vier a ser confrontado na Justiça, reconhecerá que fez as perícias a pedido do escritório de Pedro Calmon, pai e filho.

DEPOIMENTO Gontijo (à esq.) depôs ao senador Romeu Tuma e reconheceu a autenticidade dos diálogos

Um advogado ouvido por ISTOÉ afirmou que os laudos devem ter sido pedidos com o propósito de embasar uma eventual ação judicial para reconhecimento de paternidade ou de estabelecimento de valor para pensão alimentícia. Não foi o caso dos processos envolvendo o senador Renan Calheiros e a jornalista Mônica Veloso. Embora as pendências jurídicas existam, os laudos não estão anexados a eles. Calmon Mendes afirma que “sua cliente nunca apresentou qualquer contestação” no processo que trata do valor de pensão alimentícia. Era mais uma mentira do advogado. Há uma petição, datada de 3 de dezembro do ano passado, que contesta, sim, o valor da pensão de R$ 3 mil que vinha sendo paga. E de uma forma que sugere, no mínimo, que as duas partes deviam lesar o Fisco. O que se pede, nesse documento, é que R$ 3 mil sejam descontados em folha, do salário do presidente do Senado, e “o restante, R$ 9 mil, oficiosamente, ou, no termo popular, por fora”.

Procurado por telefone na tarde da quarta- feira 6, Calmon Mendes perdeu a oportunidade de se corrigir. Disse a ISTOÉ: “Não existe gravação. Não existe fita. Nunca ouvi fita. Nunca vi laudo. Não requisitei laudo. Nunca ouvi falar de o dr. Aidano ter feito nenhum laudo. Pronto. Acabou.” O advogado ameaçou recorrer à Justiça contra a reportagem e à OAB contra os jornalistas. Antes de ingressar na OAB, ele podia primeiro desfazer outro equívoco – enquanto na Ordem ele é registrado como Calmon Mendes, à imprensa e ao perito não se incomoda de ser tratado por Calmon Filho. E, caso leve adiante a ameaça de recorrer à Justiça, o doutor Calmon Mendes deveria ser lembrado de que, diante de tantas provas de suas mentiras, poderá ser enquadrado por litigância de má-fé, que ocorre quando a pessoa, de forma consciente, tenta induzir a Justiça a erro.