POUCA INFLUÊNCIA Segundo a PF, Genivaldo Inácio da Silva,
o Vavá, prometia vantagens e nada fazia

Foram 166 mil chamadas telefônicas grampeadas em seis meses de investigações realizadas em mais uma operação da Polícia Federal, desta vez em Mato Grosso do Sul (MS).

A ação desencadeada para investigar a máfia de caça-níqueis no País recebeu o sugestivo nome de Operação Xeque- Mate. Entre os apreciadores do jogo de xadrez, todos sabem que xeque-mate é o lance decisivo, quando o rei é derrubado. A pergunta que se poderia fazer é: quem seria o rei nesta operação? "Rei é o chefe", respondeu o ministro da Justiça, Tarso Genro. Há quem conclua que o rei poderia ser o presidente Lula – hipótese reforçada pelo atabalhoado indiciamento de seu irmão Genivaldo Inácio da Silva e da prisão de pessoas de seu entorno, como o "compadre" Dario Morelli Filho. O rei também poderia ser o próprio ministro da Justiça, visto com desconfiança por muitos delegados. O fato é que, por trás dessa ação da PF que mobilizou dez delegados e 600 agentes em seis A ação desencadeada para investigar a máfia de caça-níqueis no País recebeu o sugestivo nome de Operação Xeque- Mate. Entre os apreciadores do jogo de xadrez, todos sabem que xeque-mate é o lance decisivo, quando o rei é derrubado. A pergunta que se poderia fazer é: quem seria o rei nesta operação? "Rei é o chefe", respondeu o ministro da Justiça, Tarso Genro. Há quem conclua que o rei poderia ser o presidente Lula – hipótese reforçada pelo atabalhoado indiciamento de seu irmão Genivaldo Inácio da Silva e da prisão de pessoas de seu entorno, como o "compadre" Dario Morelli Filho. O rei também poderia ser o próprio ministro da Justiça, visto com desconfiança por muitos delegados. O fato é que, por trás dessa ação da PF que mobilizou dez delegados e 600 agentes em seis entende que o doutor Lacerda é interino, é bom comprar um banquinho".

Disputas políticas à parte, o certo é que a investigação da Operação Xeque-Mate irritou o presidente Lula. Entre os milhares de conversas grampeadas, os policiais consideraram 5.600 como "interessantes". Cerca de cinco mil delas tratavam da corrupção de policiais civis e oficiais da PM do MS que davam proteção a cinco redes criminosas do jogo ilegal. Entre as 600 ligações restantes, uma delas batia às portas do presidente. Trata-se da conversa entre Genival Inácio da Silva (Vavá), irmão mais velho de Lula, e Nilton Cézar Servo, um ex-deputado estadual do Paraná e amigo de Vavá há oito anos. Servo é acusado pela polícia de ser a peça-chave no inquérito que apura a jogatina ilegal. Ele foi presidente da Associação Nacional dos Bingos e Jogos, é considerado o comandante do esquema dos caça-níqueis em Mato Grosso do Sul e, segundo a polícia, teria pago propinas para Vavá em troca de eventuais facilidades junto a órgãos públicos.

Ao contrário do xeque-mate do xadrez, que exige paciência e, sobretudo, perspicácia, na Operação Xeque-Mate os federais deixaram um rastro de "ação tabajara" nas investigações. Inicialmente, imaginavam ter provas até para colocar Vavá na cadeia. O Judiciário, no entanto, negou tal pretensão. Mesmo assim, insistiram em vasculhar a residência do irmão do presidente. Novo fiasco. Chefiados pelo delegado Antônio Kinol, os agentes invadiram a casa de Vavá às 6h da segunda-feira 3. Três horas depois, deixaram São Bernardo do Campo com três folhas de papel – dois currículos e um pedido de emprego dirigido ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP) – e um disco rígido de computador. Na falta de elementos contundentes, ensaiou-se uma justificativa infantil: "Ele (Vavá) não chegava a efetivar os pedidos, sequer os encaminhava.

Como irmão do presidente, ele pedia dinheiro a pretexto de influir politicamente nas ações do grupo", relatou um delegado do caso. Embora sem provar, os policiais garantiram que Vavá recebia de Nilton Servo valores que variavam de R$ 2 mil a R$ 3 mil .

"Não é vantagem ser parente de Lula"
Dona Maria da Silva é casada com Genival Inácio da Silva, o Vavá, há 45 anos. Na quarta-feira 6, ela conversou com ISTOÉ por telefone. Contou que o presidente Lula visitou Vavá em casa há menos de dois meses. E disse que ser parente de Lula é um fardo.

 

ISTOÉ – O Vavá é inocente?
Dona Maria –
A gente tem certeza de que ele não fez nada do que estão falando. Vamos esperar para ver. Ele é um homem tão bom, que gosta de ajudar os outros. Todo mundo gosta dele, e ficam inventando porcaria.

 

ISTOÉ – O escritório fechou mesmo?
Dona Maria –
Acabou o escritório, não tem mais nada.

ISTOÉ – Mas ele vinha a Brasília de vez em quando…
Dona Maria –
Poxa vida! Nem em Brasília pode ir que já fica todo mundo em cima, achando que foi fazer alguma coisa. Parente de Lula não é vantagem ninguém ser. Com aquela confusão [em 2005, Vavá fora acusado de fazer lobby para empresários junto ao governo] minha filha perdeu o emprego, está até hoje correndo atrás. Agora que estava encaixando, vem essa bomba de novo.

ISTOÉ – O presidente ligou para ele?
Dona Maria –
Sabe que não sei… O presidente eu não estou sabendo não.

ISTOÉ – Quando foi a última vez que vocês encontraram o presidente Lula?
Dona Maria –
Ele veio agora, não faz muito tempo. Foi uma visita rápida. Não ficou nem uma hora aqui em casa.

ISTOÉ – O que o Vavá tem feito ultimamente, afinal?
Dona Maria –
Ele fica por aqui, à noite vai pra escola…

ISTOÉ – O que o Vavá tem feito ultimamente, afinal?
Dona Maria –
Eu não sei direito dos problemas dele, não.

ISTOÉ – As pessoas o procuram?
Dona Maria –
O que ele tem ajudado muito é pessoas da família mesmo, que não têm convênio [plano de saúde], aí ele arruma médico. Isso ele faz muito.

ISTOÉ – Por que ser parente de Lula atrapalha mais do que ajuda?
Dona Maria –
Porque o presidente não pode dar um apoio pra família. Eu vejo presidente aí que emprega a família inteira, não é assim? É sobrinho, é cunhado, é irmão… E da parte do Lula não pode. Tem uma filha da irmã dele, que está desempregada já faz cinco anos. Isso é vantagem?

ISTOÉ – O presidente tinha que ser mais atencioso?
Dona Maria –
Atencioso ele é. Mas nesse caso do emprego é contra, diz que não pode. Se arrumar pra um, os outros caem em cima.

Apesar da fragilidade das acusações, a PF indiciou o irmão do presidente por "exploração de prestígio e tráfico de influência". Na noite da quarta-feira 6, os policiais conseguiram um simulacro de "prova" de que Vavá recebia propina. Trata-se do depoimento de Andrei Cunha, ex-gerente de uma das empresas de Nilton Servo, também preso na Operação Xeque-Mate. Favorecido pelo instituto da delação premiada, ele disse que ouvia Nilton Servo reclamar constantemente que Vavá lhe pedia dinheiro. Ah, há outro simulacro no inquérito: segundo a polícia, numa das gravações Nilton Servo diz, em conversa com terceiros: "O Vavá está pedindo mais alto."

O CHEFE DA MÁFIA Nilton Servo, ex-deputado estadual
no Paraná, é acusado de chefiar um esquema de caça-níqueis.
Ele comandava cinco grupos de empresários de casa de bingos

"O PRESIDENTE LULA (QUE ESTAVA NA ÍNDIA) QUERIA SABER SE HAVIA ORDEM JUDICIAL E SE O PROCESSO ERA REGULAR. EU DISSE QUE SIM. ENTÃO, SENTA O PAU, DISSE O PRESIDENTE"

As investigações chegaram também na casa de um compadre do presidente Lula, Dario Morelli Filho. Ele está preso, acusado de pertencer à mesma rede criminosa montada por Nilton Servo. Segundo a PF, Dario, que também é amigo de Vavá, era sócio de Servo em uma casa de jogos na Baixada Santista. O presidente é padrinho de batismo do filho de Dario, que já trabalhou para Lula como motorista e segurança entre o final dos anos 80 e início da década de 90. Fiel ao presidente, Dario tem carta branca dele e da primeira-dama para resolver problemas domésticos da família Silva em São Paulo – desde um BO na delegacia de polícia de um roubo de aparelho celular de dona Marisa até o furto, no ano passado, da fiação de cobre do sítio Los Fubangos, de propriedade de Lula, próximo à represa Billings.

O presidente Lula, que estava em viagem à Índia quando estourou a crise, reconheceu que tinha conhecimento da operação. "Lula queria saber se havia ordem judicial, se o processo era regular, e eu disse que sim", relata o ministro Tarso Genro. "Então, senta o pau", ordenou Lula. "Tenho certeza de que meu irmão não tem nada a ver com isso em função de ser uma pessoa humilde", disse o presidente. A ironia da história é que, aos olhos dos humildes, a atabalhoada ação da PF pode beneficiar o presidente. Afinal, ele agora tem o direito de dizer aos quatro cantos que "nunca na história desse País" houve uma Polícia Federal tão independente. O problema é que uma polícia republicana tem mesmo que ter autonomia. O que não significa ficar à mercê dos grupos que disputam a hegemonia da instituição.