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EXTREMOS
Ahmadinejad e Hillary:
por enquanto, ele fez a sua parte

Apesar da desconfiança que o programa nuclear iraniano costuma inspirar, o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad cumpriu na semana passada o compromisso firmado com o Brasil e a Turquia. Como acertado em Teerã, na segunda-feira 24 emissários iranianos entregaram à Agência Internacional de Energia Atômica documento prevendo o envio de 1,2 mil quilos do urânio pouco enriquecido do Irã em troca de 120 quilos de urânio para uso hospitalar. Tornou-se também público que os termos do pacto seguiam ponto a ponto recomendações feitas três semanas antes pelo presidente americano, Barack Obama, em carta dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os mais recentes desdobramentos da crise nuclear iraniana mostram que o governo Obama enfrentará dificuldades para aprovar sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU. “Muito mais importante do que isso é a sutil mudança nas relações internacionais introduzidas pelos gestos de Brasil e Turquia”, escreveu em artigo o americano Graham E. Fuller, ex-vice-presidente do Conselho Nacional de Inteligência da CIA.

Quem mais sentiu o golpe foi Hillary Clinton, secretária americana de Estado, que, no dia seguinte ao acordo negociado em Teerã, acionou seus aliados, pedindo “medidas duras” contra o Irã. Hillary também chegou a insinuar que a iniciativa diplomática brasileira teria sido movida pela ingenuidade. Consenso esboçado pela comunidade internacional indica exatamente o contrário. Diante de mais de três décadas de conflito nas relações entre os Estados Unidos e o Irã, o acordo de Teerã passou a ser visto como um primeiro passo para desatar o explosivo impasse. Hillary, por sua vez, continuou firme em sua posição. “Sem dúvida, temos sérias divergências com a política diplomática do Brasil em relação ao Irã”, afirmou na quinta-feira 27.

Hillary explicitou sua divergência com a política externa do governo Lula no momento em que divulgava a Nova Doutrina de Segurança dos Estados Unidos, em Washington. Curiosamente, no documento de 57 páginas o Brasil é citado de forma positiva várias vezes. “Nós damos as boas-vindas à liderança do Brasil e procuramos ultrapassar as datadas divisões Norte-Sul para perseguir um progresso em questões bilaterais, hemisféricas e globais”, diz um dos trechos. Seja qual for o rumo da crise iraniana, o fato é que o protagonismo brasileiro representa uma mudança na geopolítica internacional. Citando o acordo negociado em Teerã, o jornal francês “Le Monde” afirmou no editorial, intitulado “Brasil de Lula em todas as frentes”, que o mundo se maravilha com os feitos do presidente brasileiro. E mais: diz que o brasileiro pode apresentar sua candidatura à secretaria-geral da ONU. Lula, que deixa o Palácio do Planalto em 1o de janeiro de 2011, vem de fato se credenciando para ocupar o cargo, mas quer uma ONU renovada, coerente com os novos tempos. Outra possibilidade articulada por Lula é a presidência do Banco Mundial.


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