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Jordan Romero,
13 anos É a pessoa mais jovem a alcançar o topo do Everest.
Viajou incentivado pelo pai, que recebeu críticas devido aos riscos.
abaixo, na quarta-feira 26, no retorno
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Em Nova York, uma menina de 12 anos escreve livros sobre escrita criativa, rascunha poesias nas horas de folga e participa de conferências ao lado de personalidades como o empresário Bill Gates e o cineasta James Cameron. No Himalaia, um garoto da Califórnia, de 13 anos, entrou para a história como a pessoa mais jovem a alcançar o cume do Everest, no dia 22 de maio. Em Chicago, uma blogueira de moda de 14 anos rouba o lugar na primeira fila de editoras do quilate de Anna Wintour (leia-se “O Diabo Veste Prada), nos mais importantes desfiles das semanas de moda. Enquanto isso, em São Paulo, um cartunista também de 14 anos, começou a assinar na semana passada charges políticas de um grande jornal. Não é de hoje que grandes talentos não esperam a idade adulta para transbordar. É o caso do músico Wolfgang Amadeus Mozart, que começou a compor aos 5 anos. Mas, atualmente, essas pequenas mentes brilhantes, como podemos constatar nesses exemplos, têm a possibilidade de ver seu talento amplificado pelos meios de comunicação. E a capacidade incomum que possuem começa a ganhar contornos de trabalho sério, próprios do mundo adulto. Tanto que essas crianças vêm dividindo espaço com gente grande. Atentos a esse fenômeno, os especialistas têm se perguntado: seria isso saudável?

A resposta para essa pergunta é: não. Apesar de o acesso cada vez mais fácil à informação possibilitar o surgimento de experts juvenis nas mais diferentes áreas, ainda não se descobriu como ensinar maturidade. “Só com a experiência se constrói a maturidade e uma pessoa jovem sempre vai precisar do suporte de um adulto enquanto está formando a dela”, afirma o educador Sidnei Oliveira, especialista em conflito de gerações e autor do recém-lançado “Geração Y”. “É até perigoso pensar que só porque uma criança demonstra brilhantismo em alguma área está madura para outros aspectos da vida.” Para Oliveira, é normal que a nova geração manifeste cada vez mais cedo seus talentos, já que está superestimulada pelos meios de comunicação. Assim como tenha mais facilidade de divulgar suas atividades, graças à tecnologia. Mas isso não significa que ela esteja madura para assumir posições em qualquer área. “Maturidade não tem nada a ver com habilidade”, sentencia.

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João Montanaro, 14 anos Contratado como chargista de um jornal
de grande circulação. Lançará “Cócegas no Raciocínio”, livro
com 100 charges, na Bienal de São Paulo, em agosto

Há, inclusive, questões físicas a clamar pela desaceleração desse processo. “Algumas atividades requerem um amadurecimento neurológico. O cérebro simplesmente não está preparado para tudo enquanto não atinge certo nível”, diz a professora de filosofia da ciência da Universidade de São Paulo (USP), Zélia Ramozzi. Uma criança, por exemplo, pode aprender facilmente a dirigir um carro, mas não tem noção do perigo que ele representa para as pessoas que passam na frente dela. Em áreas em que se demandam imaginação e criatividade, porém, como música e desenho, é natural que essas habilidades sejam manifestadas já na infância. E elas devem ser incentivadas. Mas apoio à vocação precoce não deve se transformar em pressão para o sucesso.

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Adora Svitak, 12 anos Dividiu um palco  de conferência
com Bill Gates, falando sobre escrita criativa e leitura.
Lançou o primeiro livro aos 4 anos (já escreveu três)

Os pais da mais famosa blogueira mirim de moda do mundo, a americana Tavi Gevinson, 14 anos de idade e três de carreira, só souberam das atividades da adolescente depois que ela lhes pediu autorização para conceder uma entrevista ao jornal americano “The New York Times”, há dois anos. Com o visual de quem assaltou o guarda-roupa da avó, a menina profere palestras, escreve para a incensada revista “Harper’s Bazaar”, e é queridinha de estilistas como Marc Jacobs. Em entrevistas, os pais demonstram preocupação com a filha e dizem que não se importariam se ela abandonasse o blog.

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Tavi Gevinson, 14 anos Blogueira de moda  que participa
dos principais eventos do circuito mundial, inclusive
como jurada. Queridinha de estilistas como Marc Jacobs

O paulista João Montanaro, 14 anos, começou a desenhar aos 6, incentivado pelo pai, que adorava histórias em quadrinhos. Depois de conseguir inserir as tiras em alguns veículos, realizou o sonho de ser contratado como chargista de um jornal de grande circulação. “Coloquei os desenhos debaixo do braço e bati de porta em porta”, diz. O adolescente tem total apoio da família. “A ideia para a charge vem sempre dele, não interfiro na criação, mas sou a voz da experiência. Às vezes questiono alguma informação”, diz o pai, Mário Barbosa, que afirma ter só duas preocupações: com o que o filho passa para as pessoas através dos desenhos e se o menino está feliz.” Barbosa está certo. Os educadores ressaltam que esta geração precisa de apoio para não se perder em meio a tantas possibilidades. Assim, nem elas nem o mundo desperdiçarão esses grandes talentos.