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Primeiro senador cassado do País, há dez anos, o empresário Luiz Estevão de Oliveira Neto (PMDB) está de volta à política brasiliense. Embora ainda esteja com todos os bens bloqueados, fruto do seu envolvimento com o escândalo da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo, e responda a mais de 150 processos em Brasília, o ex-senador cassado é hoje um dos principais coordenadores da campanha de Joaquim Roriz (PSC) ao governo do DF. E ambiciona voos ainda mais altos. Caso a parceria com Roriz seja bem-sucedida, Estevão, segundo seus aliados, pretende voltar a disputar um cargo eletivo em 2014. Entre os seus planos estaria a briga por uma cadeira na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal. “O que vou pensar daqui a quatro anos, não sei”, disse o ex-senador em entrevista à ISTOÉ. “Mas o Roriz me chamou em agosto do ano passado e pediu que eu participasse de sua equipe. Participei de cinco ou seis reuniões”, confirma.

Se Roriz for eleito, o empresário deve assumir uma secretaria de Estado importante, como a de Obras, Saúde ou Educação, garantem pessoas próximas ao ex-governador ouvidas por ISTOÉ. Antigo aliado da década de 90, Estevão reconquistou a confiança de Roriz há três anos, quando os dois se uniram para tentar ocupar cargos na estrutura administrativa do governo Arruda. Em troca, prometiam apoio político ao então governador do DEM. Apesar de Arruda ter descartado a hipótese de abrir espaço para a dupla Roriz e Estevão, a ligação dos dois ficou ainda mais forte. Segundo interlocutores do PMDB, Estevão chegou a socorrer Roriz financeiramente, quando o ex-governador teve problemas temporários de capital de giro. Mesmo com todo o seu patrimônio bloqueado, o ex-senador é um homem de muitas posses. Hoje, ganha mais de R$ 3 milhões mensais alugando prédios, galpões e lotes em Brasília. “O bloqueio de bens o tornou mais rico, pois ele não vendeu nada e os imóveis valorizaram muito nestes dez anos”, diz um amigo do empresário.

Estevão confirma a fama de homem que não abandona os amigos, mesmo em meio a tempestades. Foi assim com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, após o processo de impeachment. “Nós continuamos sendo grandes amigos”, garante. Essa amizade levou o empresário a assinar como fiador o empréstimo fictício que Collor, à época presidente da República, fez para justificar US$ 5 milhões sem origem. Foi a famosa Operação Uruguai. Ao fim e ao cabo, a Receita concluiu que a operação não existiu e, com isso, deixou de aplicar punições mais severas a Collor, Estevão e ao ex-governador Paulo Octávio, outro avalista da operação. A fidelidade de Estevão a Roriz gera frutos políticos e prestígio dentro do seu partido, o PMDB. “Há poucos minutos, recebi um telefonema do PMDB, perguntando se eu toparia reunião com os membros da Executiva do partido para avaliar as opções que eles têm”, disse o coordenador da campanha de Roriz, na terça-feira 25. O partido estuda uma composição com o PT para as próximas eleições, mas Estevão é contra. “Essa aliança é boa para o Tadeu Filipelli, mas retira a chance eleitoral dos outros parlamentares do PMDB”, avaliou.

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EQUIPE
Se Roriz vencer as eleições ao governo do DF, Estevão deve assumir uma secretaria

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O cenário eleitoral no DF é favorável às pretensões da dupla Roriz e Estevão. Segundo as pesquisas mais recentes, Roriz ganha do ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz (PT), de 38% a 25%, no primeiro turno. As mesmas sondagens mostram que Estevão seria um dos deputados federais mais votados de Brasília, com 4% a 5% dos votos, caso disputasse as eleições deste ano. “Tenho muito mais que isso”, gaba-se Estevão. “Tornei-me elegível e todo partido político quer que as pessoas que têm grandes possibilidades de puxar votos se tornem candidatas”, acrescenta. O curioso é que os percentuais do ex-senador nas últimas pesquisas espontâneas o colocam empatado com um de seus desafetos, o ex-governador José Roberto Arruda, que mesmo com o escândalo do Mensalão do DEM ainda é lembrado pelos eleitores.

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Cassado em 2000, Estevão teve os direitos políticos suspensos por dez anos. O ex-senador também foi condenado por evasão de divisas, ao movimentar US$ 20 milhões no Delta Bank, em Miami, sem informar à Receita Federal. Seu empreendimento, o Grupo OK, é alvo de dois mil processos na capital. “Tem um monte de gente pedindo escrituração de imóveis. Do total, 99% dos casos são terceiros pedindo que o juiz autorize a liberação do imóvel para outorgar escritura”, alega ele. Mas a punição de Estevão na esfera eleitoral termina no fim do ano. Para o PMDB brasiliense, o empresário poderia até participar das eleições, já que a posse só ocorre em janeiro de 2011. Mas, no meio político, fala-se que a aceitação de Estevão nas urnas estará diretamente associada à capacidade de ele provar sua inocência. “Se as pessoas acreditassem que roubei R$ 169 milhões de algum lugar, duvido que me tratassem tão bem”, rebate Estevão. Parte da popularidade que tinha antes da cassação no Senado o empresário reconquistou como presidente do Brasiliense Esporte Clube, hoje um dos clubes mais fortes do Distrito Federal. No Brasiliense, Estevão exibe um currículo vitorioso. De 2004 a 2009, conquistou seis campeonatos estaduais seguidos. Resta saber, porém, se até 2014 o ex-senador terá votos e apoios suficientes para conseguir triunfar novamente nas urnas.


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