O grande esporte político nesses primórdios da campanha eleitoral foi lançado pelo presidente Lula e tem por princípio a questão que o persegue desde que tomou posse em 2002: quem governa melhor, ele ou seu antecessor Fernando Henrique Cardoso? Na convenção que confirmou seu nome para uma campanha à reeleição, Lula apostou em números econômicos e no avanço de projetos sociais para cravar que ele fez mais. FHC atendeu de pronto ao chamado para a disputa, alegando que o atual titular da Presidência “cacareja” sobre ovos alheios. Quem é mais garganta nessa pendenga? Os dois. Pelas plataformas de administração, pelas bandeiras adotadas em suas respectivas gestões, pelas medidas tomadas e pelo estilo ortodoxo de condução da economia, Lula e FHC dividem o mesmo balcão de ações. Não interessa aqui definir quem começou ou quem terminou esse ou aquele programa. Os dois seguiram na mesma raia e poucos podem duvidar da semelhança de decisões e continuísmo que marcou os últimos 12 anos (oito do primeiro e quatro do segundo) de Presidência. Lula, assim como FHC, flerta com juros altos, abraçou a política de arrecadação recorde de impostos, jogou forte na valorização do real, aumentou despesas públicas, deixou de lado a Previdência e incrementou programas sociais de apelo populista, que já vinham da gestão anterior. Precisa mais? Quem há de negar a proximidade de estilos dos seus respectivos ex-czares econômicos, Pedro Malan e Antônio Palocci, ao empurrarem o País para taxas medíocres de crescimento do PIB? Onde, se não na polaridade de idéias de Lula e FHC, o sistema financeiro – bancos e investidores – seria tão beneficiado por uma conjunção de medidas rumo aos lucros lunares? Parceiros de panfletagem em portas de fábrica, nos tempos longínquos de sindicalismo aguerrido, colegas de palanque pelas “Diretas-já”, Lula e FHC muito dificilmente vão conseguir dissociar a imagem de um da do outro. Podem usar de jogo de cena, de muita retórica e bate-boca, mas não há como negar: saíram da mesma fôrma.