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Novidade, padrão de comportamento e febre musical na década de 70, o reggae consagrou o cantor jamaicano Bob Marley e conquistou roqueiros da estirpe dos Rolling Stones, Eric Clapton e The Clash. Vivia ultimamente um período de marasmo até que foi sacudido pelo irresistível balanço da música Welcome to jamrock. Como boas origens são boas origens, deve-se isso ao autor e intérprete dessa composição, o também jamaicano Damian Marley, que nada mais é do que o filho caçula do próprio Bob Marley, a maior lenda desse gênero musical. Combinando os fundamentos do antigo ritmo com a faceta mais urbana do moderno hip-hop, Damian deu nova energia ao reggae – relegado nos últimos anos a ser ouvido em quiosques de praia. Essa renovação não demorou a ecoar e na esteira de Welcome to jamrock veio o lançamento do CD Youth (Sony BMG), do americano Matisyahu. A novidade nesse caso é surpreendente: Matisyahu é um judeu ortodoxo que se apresenta de terno e chapéu de abas largas, tudo preto, e ostenta a barba longa e bem penteada daqueles que fielmente freqüentam as sinagogas.

Damian, apelidado Jr. Gong (nome do narguilé usado na Jamaica para fumar maconha, porque onde há reggae há fumaça), tinha apenas dois anos quando Bob Marley morreu. Mas, pelo visto, deve ter passado a infância, a adolescência e a juventude ouvindo os discos de seu pai. Welcome to jamrock (Universal), o álbum que obteve a melhor posição na lista dos mais vendidos da Billboard (o termômetro mundial de sucesso), é um trabalho que “regueiros” (e outros nem tão fanáticos assim) esperavam desde o desaparecimento de Shabba Ranks na década de 90. O carro-chefe, obviamente, é a faixa-título, bastante executada nas FMs brasileiras. Fala da violência nos bairros da periferia de Kingston, na Jamaica, e de turistas “empunhando club soda nas praias com pose de Chuck Norris”. Cheia de efeitos de mixagem (o chamado dub), a música é tão moderna que lembra a produção inicial do grupo inglês Massive Attack. Na música Pimpa’s paradise, que aborda as drogas e a prostituição, toda a parafernália eletrônica vem acompanhada de um violão acústico e do rap de Black Thought, da banda The Roots. Rappers, aliás, é o que não faltam no disco – aparecem também, em participações especiais, gente como Nas e Bobby Brown, o marido brigão de Whitney Houston.

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Tão bem acabado quanto o disco de Damian Marley é o álbum Youth, do judeu Matisyahu. Produzido por um dos grandes nomes do gênero, o americano Bill Laswell, esse é o seu terceiro trabalho. Nascido na Pensilvânia e criado na Califórnia, onde se apaixonou pelo reggae, Matisyahu não dava a mínima para os ensinamentos do Talmude (compilação de leis e tradições judaicas), até que entrou em contato com os preceitos do hassidismo, uma das correntes mais tradicionais de sua religião. Entrou de cabeça nela. Esse curioso e surpreendente sincretismo cultural começa, por exemplo, pelo nome de algumas de suas músicas, como Jerusalem e Shalom/Saalam. Matisyahu (é o correspondente judeu para seu nome real, Matthew) se esforça para cantar naquele inglês típico dos jamaicanos e se sai bem. Nessa nova onda do reggae brota também o alemão Gentleman, sucesso internacional com o seu terceiro CD, chamado Confidence. Ele nasceu em Colônia e seu nome verdadeiro é Otto Tilmann. Viveu uma década em Kingston e só grava nos mitológicos estúdios dessa cidade. “Quando Bob Marley morreu, as pessoas acharam que o reggae iria desaparecer”, diz Gentleman. “Mas está vivo e continua a evoluir.” A melhor prova disso é a rapidez com que essa nova geração do reggae está conquistando o mundo.