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Itamar Assumpção (1949-2003) ficou conhecido como um dos expoentes da chamada vanguarda paulista, um fenômeno (hoje visto como movimento) surgido na virada dos anos 80 no boêmio bairro paulistano de Vila Madalena. A ditadura militar estava em seus estertores e esse bairro de classe média próximo da Universidade de São Paulo, espécie de quartier latin paulistano (referência a um dos centros intelectuais parisienses), reunia professores, estudantes, intelectuais e artistas. Ao lado dos grupos Rumo, Premeditando o Breque e Língua de Trapo, entre outros, Itamar fez a fama do Teatro Lira Paulistana, e uma das características desses artistas era a aversão pela indústria fonográfica, pelo chamado “sistemão”, que igualmente os descartou sem grandes dificuldades. Assim, a produção do período, realizada de maneira independente dos esquemas de divulgação e distribuição, os deixou afastados de um público maior.

No caso de Itamar, que lançou nove discos a partir de Beleléu (1981), a situação ficou mais grave porque grande parte das fitas originais foi perdida, impossibilitando um trabalho eficiente de remixagem ou de remasterização. Assim, a obra Pretobrás – por que que eu não pensei nisso antes? O livro de canções e histórias de Itamar Assumpção (Ediouro, 2 volumes de 250 págs. cada, R$ 45 cada) faz justiça a um grande artista brasileiro. Ela reúne 98 composições e parcerias de Itamar, transcritas para partituras e cifras, acompanhadas de ensaios, depoimentos, cronologia e discografia. Organizado por Mônica Tarantino e escrito por Luiz Chagas, jornalistas de ISTOÉ, a obra tem o patrocínio da Petrobras, com projeto gráfico do designer Luciano Pessoa e transcrições de Clara Bastos, baixista das Orquídeas do Brasil. O levantamento fotográfico de toda uma época só foi possível graças à cessão de imagens de diversos fotógrafos e ao apoio da revista ISTOÉ, que disponibilizou seus arquivos.

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O primeiro volume apresenta textos do compositor Luiz Tatit, da professora de literatura Maria Betânia Amoroso e da poeta Alice Ruiz. O segundo traz depoimentos de amigos e familiares, além de artistas que gravaram Itamar ou se apresentaram com ele. Nesse grupo heterogêneo aparecem Jards Macalé, Elke Maravilha, Ney Matogrosso, Rita Lee, Jorge Mautner, Luiz Melodia e Zélia Duncan, que, ao lado de Cássia Eller, sonhava em participar da banda Isca de Polícia, de Itamar. O lançamento do songbook será na segunda-feira 3, no Itaú Cultural, em São Paulo. Haverá a apresentação do vídeo Homem polvo, feito sobre desenhos do artista. Em seu depoimento, Rita Lee afirma que uma orquídea que ganhou de Itamar se abriu no dia em que ele morreu. E conclui: “Ele era o artista maldito mais bendito que eu conheci.”

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