Dia sim, dia não, o ator Diogo Vilela tem aula de canto, e nessa toada lá se vão mais de três anos. Motivo: ele vai interpretar no palco uma das mais privilegiadas gargantas do Brasil. A garganta, além de exuberante voz, tem trejeitos e caras e bocas, raramente se apresentou em público sem smoking, tem nome e sobrenome: Cauby Peixoto. “Eu nunca faltei a uma aula de canto”, diz Diogo Vilela. O projeto de interpretar vida e obra de Cauby, um dos mais populares cantores brasileiros (gerações passam, mas o seu clássico Conceição fica), começou a brotar no ator quando ele percebeu, ao cantarolar músicas do ídolo enquanto ouvia um de seus CDs, que o timbre de suas vozes é bastante semelhante: “Além do timbre, temos também a mesma extensão vocal.” Aí veio, então, um processo de “imersão total” naquilo que Vilela chama de “universo caubyniano”: leu livros sobre o cantor, ouviu discos e mais discos, observou as suas performances nos shows. É assim que o musical Cauby! Cauby! estréia no dia 13 de julho, no teatro Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro. “O tom da peça é o da espetaculosidade, se é que essa palavra existe”, diz Diogo Vilela. Como se vê, ao usar tal expressão exagerada, ele já está de corpo e alma no clima de Cauby.

Cauby Peixoto, o próprio, 75 anos presumidamente (ele nunca declarou a data de nascimento), disse a ISTOÉ: “Será nada menos que um grande sucesso!” Tudo bem, as palavras “grande sucesso”, saindo de sua boca, soam perfeitamente naturais e coerentes a alguém que construiu ao longo da carreira a marca da exacerbação. Ele aprovou a performance do ator justamente porque “o Diogo tem a voz empostada” e também não perdeu a chance de elogiar (merecidamente e de novo naturalmente) a si próprio. “Eu me fiz o maior cantor do País em tempo recorde”, disse ele, a quem a revista Time classifica como o maior ídolo da música popular brasileira – e que nos EUA era chamado de Ron Coby quando lá esteve para gravar na década de 50. O autor do texto do espetáculo é Flávio Marinho (que também assina a direção com Diogo Vilela) e é ele quem garante que aprendeu com o cantor uma forma de dizer com muita sutileza tudo aquilo que pensa: “Cauby responde a todas as nossas perguntas, mas o mais importante do que diz está sempre nas entrelinhas. A peça segue esse estilo.” O enredo desse musical é contado através de uma entrevista que começa no tempo presente e vai recuando para o passado à mercê da memória do entrevistado. “Onde tem humor, dá para gargalhar. Onde há melancolia, dá para chorar”, diz o autor.

O espetáculo revelará fatos da vida de Cauby Peixoto que são desconhecidos até dos maiores fãs, mas a peça não pretende expor o que ele nunca quis que se tornasse público – como, por exemplo, detalhes de sua vida sexual. “Não posso afirmar que ele é homossexual ou heterossexual porque nunca declarou. Para mim, é apenas um cavalheiro, uma pessoa gentil e nobre”, diz Vilela. Fundamental na montagem, para o ator, é o glamour. A superprodução conta com 148 figurinos e mais de 60 perucas. Vilela canta 15 canções. Começa com Conceição, de 1956, e não esquece de Bastidores, a célebre composição que Chico Buarque fez para Cauby, na qual ele diz: “Com muitos brilhos me vesti, depois me pintei, me pintei, cantei, cantei, como é cruel cantar assim.” Nascido em Niterói, Cauby Peixoto não casou e não teve filhos, vive em São Paulo e mantém um ritmo invejável de shows. Vaidoso, já fez três plásticas e consegue não adicionar gordura em seu corpão de 1,85 m de altura. Como sempre, está ótimo. E certamente também estará na pele de quem tanto estuda, treina e disciplina a voz para interpretá-lo.