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É difícil achar quem não goste de beleza – mas para os artistas ela é fundamental. Por isso, não é difícil entender por que Santa Teresa, com suas casas antigas, ladeiras sinuosas e vistas do Rio de Janeiro de tirar o fôlego, se transforma no maior e mais importante pólo de concentração de artistas plásticos do País. O tradicional bairro carioca, situado na divisão entre o centro e a zona sul da cidade, abriga mais de 60 ateliês com intensa produtividade e abertos ao público. Muitos deles servem também de moradia para seus donos. Os aluguéis acessíveis e a proximidade com a região central, onde há disponibilidade de material, também ajudam a atrair os criadores. “Artistas gostam de lugares tranqüilos para viver e trabalhar – e eu não conheço outro igual a esse”, elogia Beatriz Pimenta, que faz peças em acetato e acrílico.

Os românticos e centenários bondes que cruzam o bairro foram um dos motivos que levaram o gaúcho Júlio Castro a se fixar na região. Hoje ele organiza o Portas Abertas, evento anual em que todos os artistas abrem seus ateliês ao público. No ano passado, 35 mil pessoas visitaram as casas. Junto ao estúdio que ele mantém no bairro há uma loja de arte com uma grande frente de vidro. Em 2004, ele inaugurou no espaço a Vitrine efêmera, que expõe o trabalho de um criador a cada 15 dias. “Não cobro nada. Faço por paixão e, nos intervalos, exponho minhas próprias obras”, conta o artista, especializado em pinturas com tinta acrílica sobre tecido transparente.

A edição que será realizada entre os dias 28 e 30 de julho marcará os dez anos do Portas Abertas. Castro ainda se surpreende com alguns comentários que ouve: “As pessoas dizem que vêem coisas estranhas por aqui”, diverte-se. Os mais espantados devem achar esquisito, por exemplo, o cubo perfeito de 11 metros que o carioca José Tannuri criou para ser o seu ateliê. O espaço nasceu da exposição Vazios, feita no ano passado, que exibiu 300 cubos. “A vantagem de trabalhar em casa é que não preciso ter horários”, explica Tannuri, que trocou a Gávea, na zona sul, pelo bairro. “Aqui tenho uma vista indescritível para o bairro da Lapa”, diz.

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O conhecido artista gaúcho Carlos Vergara, por sua vez, gosta de se fechar em seus ateliês no bairro para trabalhar solitário. Nos momentos de lazer, reúne amigos nos bares e restaurantes locais: “É adorável viver num lugar onde as pessoas ainda se cumprimentam nas ruas”, diz ele. A pintora paulista Djanira (1914-1965) acabou seus dias em Santa Teresa. A Pensão Mauá, onde ela alugava um quarto, passou a atrair estudantes de artes e pintores estrangeiros. Um outro grupo vindo do Exterior, que incluiu o romeno Lasar Segall (1891-1957), instalou-se no Hotel Internacional. O industrial e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968) e sua vizinha Laurinda Santos Lobo (1878-1946), uma entusiasmada organizadora de saraus, foram outros que injetaram arte e cultura no bairro. Maya doou sua coleção à cidade – parte dela está no Museu Chácara do Céu, sua antiga residência. Os poéticos nomes das ruas, como Aprazível e Paraíso, onde fica o ateliê de Alberto Kaplan, são atrativos à parte. Em Santa Teresa, não é exagero dizer que a arte está nas ruas, nas ladeiras e no ar.