05/07/2006 - 10:00
Com o pretexto de economizar dinheiro, a apresentadora Suzana Werner, mulher do goleiro Júlio César, da Seleção Brasileira, decidiu seguir o jogador pelo Mundial da Alemanha, com seus pais e dois filhos do casal, Cauet, três anos, e Giulia, dez meses, a bordo de um motorhome. O veículo, uma verdadeira casa sobre rodas, tem sala, cozinha, quartos e capacidade para até dez pessoas. Apesar de ainda pouco conhecida e usada no Brasil, essa combinação de hospedagem e meio de transporte é muito comum nas férias e viagens da classe média na Europa e nos Estados Unidos. O motivo do sucesso, como atesta a própria Suzana, é a mistura de economia, prazer e conforto. “Em cada cidade onde joga a Seleção, gastaríamos quatro mil euros (R$ 11,6 mil) com passagens de avião e outros quatro mil de hotel”, contabiliza ela. Para alugar o carro casa por 15 dias, a família investiu apenas R$ 4,2 mil, com espaço de sobra para os quatro e para as visitas de Júlio César.
É fácil entender porque o negócio não pára de crescer. “Um estudo americano recente mostra que, numa viagem de carro-casa, quatro pessoas gastam em média 25% do que seria necessário para uma viagem tradicional, com custos de deslocamento e hospedagem”, diz Luiz Tostes, presidente da Associação Brasileira de Campismo (Abracamping). Ao que tudo indica, o uso de motorhomes no Brasil só não explodiu por causa de restrições impostas pelo Código Nacional de Trânsito. Enquanto na maior parte do mundo basta que a pessoa possua uma carteira de habilitação para dirigir um motorhome, aqui há uma série de exigências para guiar o carro. “Nossa legislação exige carteira da chamada categoria D, a mesma utilizada por motoristas de ônibus”, explica Tostes. “É um atraso ao desenvolvimento do turismo de camping do País”, completa.
Segundo Tostes, um projeto de lei para mudar essa exigência tramita desde 1998 no Congresso e ainda aguarda votação da Câmara. “O Brasil possui grandes extensões rodoviárias. Pode lucrar muito com o caravanismo se essas restrições caírem”, avalia. Enquanto isso não acontece, o total de motorhomes no País não passa de três mil, contra 3,4 milhões nos Estados Unidos e 900 mil na Europa. Por essas e outras, o turista que deseja viajar pela América Latina num desses veículos acaba optando por um roteiro na Argentina ou no Chile, onde a legislação não exige carteira profissional de habilitação. “A viagem sai mais barato do que no Brasil e o turista não precisa dividir espaço com um motorista que não conhece”, diz o agente de viagens Jonatha Harada, da operadora argentina Ruta Sur, que já está com todos os seus veículos alugados para o mês de julho. Lá, a diária do veículo gira em torno de 100 euros (R$ 291), a metade do que se costuma cobrar por aqui.
Na Itu Trailer, uma das empresas que alugam motorhomes para rodar no Brasil, a diária do veículo com motorista varia de R$ 550 a R$ 850, dependendo do modelo e do número de pessoas. “Temos seis opções de carros para até dez pessoas”, conta o proprietário da empresa, Marcelo Matheus. O preço não inclui combustível nem pedágios por onde o carro passa, mas a alimentação e a hospedagem do motorista em algum hotel fazem parte do pacote. A rigor, por causa da absurda legislação brasileira, o turista, além de ser obrigado a abrir mão de um eventual desejo de dirigir o brinquedo, é obrigado a pagar, embutido no preço final, um motorista com a tal carteira profissional. Ao custo, praticamente, do aluguel de outro motorhome, a preços sul-americanos. Por isso, as empresas que trabalham com esses veículos no País lucram mesmo com a locação para comerciais, filmes e eventos esportivos. “Tenho todos os meus seis carros reservados para o Rali dos Sertões”, diz Matheus. E, enquanto isso, os brasileiros incrementam o turismo alheio.