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Com o pretexto de economizar dinheiro, a apresentadora Suzana Werner, mulher do goleiro Júlio César, da Seleção Brasileira, decidiu seguir o jogador pelo Mundial da Alemanha, com seus pais e dois filhos do casal, Cauet, três anos, e Giulia, dez meses, a bordo de um motorhome. O veículo, uma verdadeira casa sobre rodas, tem sala, cozinha, quartos e capacidade para até dez pessoas. Apesar de ainda pouco conhecida e usada no Brasil, essa combinação de hospedagem e meio de transporte é muito comum nas férias e viagens da classe média na Europa e nos Estados Unidos. O motivo do sucesso, como atesta a própria Suzana, é a mistura de economia, prazer e conforto. “Em cada cidade onde joga a Seleção, gastaríamos quatro mil euros (R$ 11,6 mil) com passagens de avião e outros quatro mil de hotel”, contabiliza ela. Para alugar o carro casa por 15 dias, a família investiu apenas R$ 4,2 mil, com espaço de sobra para os quatro e para as visitas de Júlio César.

É fácil entender porque o negócio não pára de crescer. “Um estudo americano recente mostra que, numa viagem de carro-casa, quatro pessoas gastam em média 25% do que seria necessário para uma viagem tradicional, com custos de deslocamento e hospedagem”, diz Luiz Tostes, presidente da Associação Brasileira de Campismo (Abracamping). Ao que tudo indica, o uso de motorhomes no Brasil só não explodiu por causa de restrições impostas pelo Código Nacional de Trânsito. Enquanto na maior parte do mundo basta que a pessoa possua uma carteira de habilitação para dirigir um motorhome, aqui há uma série de exigências para guiar o carro. “Nossa legislação exige carteira da chamada categoria D, a mesma utilizada por motoristas de ônibus”, explica Tostes. “É um atraso ao desenvolvimento do turismo de camping do País”, completa.

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Segundo Tostes, um projeto de lei para mudar essa exigência tramita desde 1998 no Congresso e ainda aguarda votação da Câmara. “O Brasil possui grandes extensões rodoviárias. Pode lucrar muito com o caravanismo se essas restrições caírem”, avalia. Enquanto isso não acontece, o total de motorhomes no País não passa de três mil, contra 3,4 milhões nos Estados Unidos e 900 mil na Europa. Por essas e outras, o turista que deseja viajar pela América Latina num desses veículos acaba optando por um roteiro na Argentina ou no Chile, onde a legislação não exige carteira profissional de habilitação. “A viagem sai mais barato do que no Brasil e o turista não precisa dividir espaço com um motorista que não conhece”, diz o agente de viagens Jonatha Harada, da operadora argentina Ruta Sur, que já está com todos os seus veículos alugados para o mês de julho. Lá, a diária do veículo gira em torno de 100 euros (R$ 291), a metade do que se costuma cobrar por aqui.

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Na Itu Trailer, uma das empresas que alugam motorhomes para rodar no Brasil, a diária do veículo com motorista varia de R$ 550 a R$ 850, dependendo do modelo e do número de pessoas. “Temos seis opções de carros para até dez pessoas”, conta o proprietário da empresa, Marcelo Matheus. O preço não inclui combustível nem pedágios por onde o carro passa, mas a alimentação e a hospedagem do motorista em algum hotel fazem parte do pacote. A rigor, por causa da absurda legislação brasileira, o turista, além de ser obrigado a abrir mão de um eventual desejo de dirigir o brinquedo, é obrigado a pagar, embutido no preço final, um motorista com a tal carteira profissional. Ao custo, praticamente, do aluguel de outro motorhome, a preços sul-americanos. Por isso, as empresas que trabalham com esses veículos no País lucram mesmo com a locação para comerciais, filmes e eventos esportivos. “Tenho todos os meus seis carros reservados para o Rali dos Sertões”, diz Matheus. E, enquanto isso, os brasileiros incrementam o turismo alheio.

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