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O agrônomo Francisco Ozanan Coelho é chefe do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) do Distrito Federal há 37 anos. Dias atrás, tornou-se secretário de Conservação e Manutenção dos Parques do Distrito Federal. Mas ele pouco se importa com esses títulos. “Secretário? Sou mesmo é um jardineiro”, dispara. Jardineiro: é assim que o homem se define, cheio de razão. Dos quatro milhões de árvores que dão vida à capital do País, ele plantou nada menos do que três milhões. E fez nascer 40 milhões dos 50 milhões de metros quadrados de gramado existentes na cidade. Aos 62 anos, ele atrai as atenções de paisagistas internacionais. Os mil jardins do centro foram projetados por ele. Suas obras são consideradas molduras para jóias da arquitetura mundial assinadas por Oscar Niemeyer, como o Palácio do Planalto. Os últimos afagos que recebeu foram da missão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A equipe visitou Brasília para assinar empréstimos na área de transportes públicos e fez questão de conhecer o secretário.

Francisco nasceu em Barbalha, a 600 quilômetros de Fortaleza. Filho do agricultor José e da dona-de-casa Lurdes, viveu uma adolescência instável por causa das secas constantes na região, que atingiam a fazenda da família. Trabalhava num armazém de secos e molhados e, à noite, estudava agronomia em Fortaleza. Recém-formado, partiu para Brasília em julho de 1969, onde encontrou um descampado sem muitas árvores. Não entendia muito de plantas ao desembarcar na cidade. Aprendeu o que sabe com Stênio Bastos, o primeiro responsável pelos jardins da capital. O trabalho inicial foi temporário: elaborar o jardim do Setor Militar Urbano. As recompensas foram a efetivação no quadro de servidores do Departamento de Parques e Jardins e a oportunidade de trazer para Brasília sua então namorada, Maria Socorro.

À frente de uma equipe com dez pessoas, saiu desbravando o cerrado em 1970 para selecionar as espécies que poderiam se adaptar melhor ao clima e ao solo. Por lá, descobriu ipês amarelos, brancos e roxos, as principais jóias que enfeitam a cidade. Nessa experiência de desvendar as singularidades do cerrado, Coelho reuniu material para escrever, 20 anos depois, o livro Árvores de Brasília. Atualmente se dedica a organizar corredores ecológicos, ligando pontos estratégicos da cidade como a Universidade de Brasília e o Parque da Cidade. A idéia é realizar a migração de árvores típicas de uma região para outra. E o jardineiro fiel promete mais. “Vou transformar os jardins da capital em um verdadeiro atestado cultural.” Um feito para quem sempre gostou do assunto, apesar da implicância do pai, que achava que sua precoce intimidade com as flores “não era coisa de macho”. Aos 12 anos, ficava horas admirando as flores. Curiosamente, em casa, é Maria Socorro, hoje sua mulher, quem cuida dos jardins. Ele só não abre mão de que eles tenham pelo menos uma muda de ipê e outra de copaíba, suas plantas preferidas. É justo.

Francisco Coelho fez 40 milhões dos 50 milhões de
metros quadrados de gramado da cidade