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TRATAMENTO
Amanda (com os pais) superou o problema

O problema aconteceu de repente. Aos 3 anos, Amanda começou a fazer xixi na cama com frequência, preocupando seus pais. “Minha filha ficava arrasada. Não entendia por que as coleguinhas não faziam xixi na cama como ela”, conta o economista carioca Marcelo Monteiro, pai da garota, que hoje, aos 6 anos, mantém os lençóis secos, após passar por tratamento. Enurese noturna, termo técnico para quem não controla a urina durante a noite, é uma questão séria, que pode provocar intenso sofrimento familiar. E pode ter como gatilhos questões psicológicas ou físicas. No caso de Amanda o detonador foi uma infecção urinária.

Mas uma das causas mais conhecidas da enurese noturna é a retirada precoce da fralda. Estudos indicam que a idade ideal para desfralde é a partir de dois, dois anos e meio, quando o sistema nervoso atinge maturidade para controlar a micção. A Associação Psiquiátrica Americana define como enurética a criança a partir dos cinco anos que ainda se molha. “Até essa idade não é preocupante”, afirma o pediatra carioca Daniel Becker. Porém, se o problema está trazendo sofrimento para a família ou prejudicando a vida social da criança, ela deve ser levada ao médico, independentemente da idade.

Os pais devem ficar atentos aos principais sinais da enurese: infecção urinária, dor de barriga ou nos órgãos genitais ao urinar, urgência de fazer xixi, prisão de ventre e quando a criança molha a cama mais de três vezes por semana. O mal noturno também prejudica o relacionamento familiar, já que muitos pais ficam irritados com a rotina de troca de roupas de cama e colchões molhados. A pediatra Eliane Garcez, doutora em saúde da criança pela Fundação Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, pesquisou o assunto numa comunidade carente no Rio de Janeiro e constatou que, infelizmente, 46,7% das crianças enuréticas já tinham sido punidas fisicamente.

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Estudos também demonstram que as disfunções da micção podem estar associadas ao mau funcionamento dos rins ou ter origens neurológicas, quando o cérebro não recebe a informação de que a bexiga está cheia e a urina escapa. Além disso, se não for devidamente cuidada, a criança pode desenvolver insuficiência renal e sofrer graves danos psicológicos. “Antes, a enurese era tida apenas como expressão de problema emocional. Tanto que a psiquiatria foi a primeira área a estudar o problema”, afirma a pediatra Eliane Garcez.Diante dessas constatações, há um esforço para que o distúrbio seja tratado de forma eficaz. Uma das novidades é a eletroestimulação. O método, usado até recentemente apenas em adultos, consiste na colocação de eletrodos em algumas partes do corpo (como nos tornozelos) da criança. Eles emitem uma corrente elétrica de baixa frequência por 20 a 40 minutos. O objetivo é estimular a bexiga a trabalhar de forma mais adequada. “Em alguns casos, o método resolve o problema em 20 sessões, três vezes por semana”, explica Eliane.