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INVESTIGADO
Depois de depor, Kluwe foi alvo de
nove processos internos na Abin

Após denunciar na CPI dos Grampos o uso informal da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Operação Satiagraha, da Polícia Federal (PF), o oficial de inteligência Nery Kluwe foi demitido do órgão. Ele prestou depoimento na Câmara dos Deputados em novembro de 2008 e, desde então, virou alvo de 12 investigações internas da Abin com o propósito de expulsá-lo. Coube ao próprio comandante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Félix, que negou a participação informal da Abin na operação da PF, assinar a demissão de Kluwe, em abril. “Estou vivendo com a ajuda da família e de alguns amigos”, diz Kluwe. “Se necessário, vou enviar pedido de reconsideração da demissão até para o presidente Lula.”

Pelo menos nove processos de investigação contra Kluwe foram iniciados após a ida dele à Câmara. Em seu depoimento aos parlamentares, Kluwe desmentiu o governo ao dizer que agentes de inteligência da Abin participaram da Satiagraha. Inicialmente, a Abin tentou demitir Kluwe, alegando que ele faltava ao trabalho. Num relatório interno, a agência apontou a inexistência de registro de acesso de Kluwe à rede interna de computadores do órgão por 64 dias, o que evidenciaria, em tese, abandono do cargo. Mas outro relatório confidencial ao qual ISTOÉ teve acesso, da Segurança Corporativa da Abin, mostrou que Kluwe tinha autorização para dedicar-se à associação dos funcionários do órgão.

Sem elementos para exonerar Kluwe por ausência no serviço, a Abin passou a investigá-lo pela suposta prática de advocacia administrativa. O processo interno resultou em indiciamento. Kluwe, que é formado em direito, realmente defendeu algumas pessoas na Justiça. “Soltei um garçom da Abin que atropelou uma mulher e tirei alguns filhos de servidores da cadeia”, diz. A questão é que, em junho de 2009, a Abin voltou atrás. A própria comissão destinada a investigar o caso retirou o indiciamento por advocacia administrativa. Segundo a comissão, “faltou o principal elemento dessa transgressão, qual seja, que o servidor tenha se valido da condição de servidor público para atuar junto a repartições públicas”, concluiu.

A perseguição contra o oficial, porém, não acabava ali. O general Jorge Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ao qual a Abin está subordinada, mandou reabrir as investigações e demitiu Kluwe, em abril deste ano, por atuar “como procurador intermediário junto a repartições públicas”. O oficial pediu reconsideração de sua exoneração. Procurado por ISTOÉ, o general Félix diz que o pedido de Kluwe “está em análise”. O caso deve parar no Superior Tribunal de Justiça.

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