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“Sistemas de navegação com celulares integrados
podem ser uma porta para invasores”

Ronaldo Mazará Junior, engenheiro automotivo

Depois de invadir computadores e clonar celulares, os hackers agora podem estar de olho no seu carro. Dois pesquisadores americanos anunciaram um feito digno dos filmes de espionagem: usando um laptop convencional, eles conseguiram “hackear” os sistemas de segurança de um sedã comum. O carro, que viajava a 65 km/h em uma pista de testes, teve seu motor apagado e seus sistemas de freio desligados em pleno movimento. Segundo os pesquisadores Tadayoshi Kohno, da Universidade de Washington, e Stefan Savage, da Universidade da Califórnia, o estudo pretende chamar a atenção da indústria automobilística para um perigo cada vez mais iminente. Quanto mais conectados à internet, mais nossos carros estarão vulneráveis a ataques digitais.

Ainda de acordo com os cientistas da computação travestidos de nerds do mal, a experiência foi feita com o laptop plugado diretamente no sistema do carro – o que, hipoteticamente, dificultaria a ação dos hackers. Afinal, qualquer motorista perceberia a presença de um sujeito suspeito no banco do passageiro. Contudo, Kohno e Savage afirmam ter invadido o mesmo sistema remotamente, via internet sem fio. “Esse tipo de ataque é praticamente impossível nos carros brasileiros, que já saem de fábrica com computadores semelhantes”, diz Ronaldo Mazará Junior, engenheiro automotivo da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil (SAE). Segundo ele, depois que o carro foi ligado, fica muito difícil mexer nos sistemas eletrônicos de segurança: “Tudo é checado quando a chave de ignição é girada pelo motorista.”

Vale ressaltar que o objeto da pesquisa não são os computadores de bordo, e sim os chamados body computers – praticamente inacessíveis ao motorista. Esse tipo de máquina regula sistemas como o que impede o travamento dos freios e o que regula o tempo de ignição do motor. Cada um deles costuma ser controlado de forma independente e pode ser acessado pelos mecânicos em oficinas por meio de uma entrada normalmente localizada abaixo do painel interno. Mazará também lembra outro detalhe que dificulta a ação dos hackers. “O carro precisa estar conectado à internet para que esses computadores sejam invadidos remotamente”, diz o engenheiro. “Portanto, sistemas de navegação com celulares integrados podem ser uma porta de entrada”, finaliza. Resta saber se os fabricantes de automóveis conseguirão se preparar a tempo para encarar os riscos da estrada digital.