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Pegam fogo por esses dias as relações do Brasil com a vizinha Argentina. O ponto de ebulição é comercial, mas a temperatura quente também contaminou as esferas políticas, com os dois presidentes dançando em compassos diferentes. Lula e Cristina Kirchner, que já esbanjaram sintonia e troca de amabilidades de lado a lado, estão se estranhando devido ao estilo milongueiro com o qual a parceira argentina tem tocado os acordos bilaterais entre os dois países. Cristina, acuada por pressões de sindicalistas e por um enfraquecimento político gradativo, está no corner e tem cedido aos apelos de empresas locais para adotar uma escalada protecionista sem precedentes contra produtos brasileiros. Seu governo já está ferindo contratos, aplicando sanções indevidas e adotando uma postura de quase fechamento de fronteiras às mercadorias brasileiras. Para se ter uma ideia, somente em janeiro a queda das exportações daqui para lá foi de mais de 51% do volume médio que vinha sendo realizado anteriormente. A Argentina passou a usar licenças não automáticas – que burocratizam a entrada – para mais de 150 produtos, estabeleceu preços mínimos para outros 50 e ainda abriu processos de dumping (venda a preço inferior ao custo) para uma dezena de mercadorias "made in Brazil". No total, as barreiras já atingem 2.400 itens exportados. É quase um muro de atraso para um comércio que vinha se desenvolvendo rapidamente rumo à consolidação do bloco Mercosul como força mundial.

Lula não esconde mais de interlocutores próximos sua contrariedade com a postura da colega. Encontros entre os dois, para março e abril, estão sendo reavaliados devido à falta de uma agenda concreta de entendimento. Um grupo de ministros brasileiros e argentinos se reuniu em Brasília, na semana passada, para afi nar posições no tocante ao impasse. O grupo argentino foi infl exível na permanência das medidas. Cristina e seus assessores entendem que o Brasil deve ser benevolente e aceitar sanções e subsídios de lá como se fossem meros ajustes na partitura do contrato. Falta combinar com a orquestra de empresários daqui. E é Lula quem está com a palavra. Resta saber se ele vai entrar na dança protecionista e deixar o par esperando no salão.