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A substituição de Waldir Pires por Nelson Jobim no Ministério da Defesa neste momento dramático da crise aérea no País pode finalmente criar condições para que a Pasta se afirme, no médio prazo, como órgão unificado da Defesa Nacional. Jobim não é especialista na área, mas tem a fama de se aprofundar em assuntos aos quais se dedica, tem apetite pelo poder e vocação de comando. Dessa maneira, o ex-ministro da Justiça e expresidente do STF tem todas as condições para exercer a autoridade que faltou a seus antecessores.

Criado oficialmente em 1999, o Ministério da Defesa sempre enfrentou forte oposição das Forças Armadas, cujos comandos jamais se conformaram em perder o status de ministérios. Para agravar o impasse, os governos FHC e Lula entregaram a Pasta a políticos inapetentes e sem afinidade com a área, que assim se tornavam reféns dos comandantes. A exceção foi José Viegas, primeiro titular do governo Lula, que caiu quando trombou com o comandante do Exército e o Planalto não teve coragem para defendê-lo.

O desafio de Jobim é bem mais grave, porque ele tem pela frente o hercúleo trabalho de domar o catastrófico apagão aéreo que se abateu sobre o País. Obteve carta branca de Lula e, se obtiver êxito nesta empreitada, o resto será relativamente fácil. Terá, então, condições de acabar com o estigma da caserna contra paisanos chefiando a Defesa. Há um bom precedente: João Pandiá Calógeras (1870-1934), o único civil a ocupar o Ministério da Guerra durante a República. Engenheiro de formação e político por vocação, ele promoveu a partir de 1919 a mais profunda modernização até então no Exército brasileiro. Ganhou respeito dos militares e, em 1922, teve peito para mandar prender o marechal Hermes da Fonseca, ex-presidente da República, e fechar o Clube Militar, quando estes se envolveram em questões políticas.

A sorte está lançada.