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Na noite da segunda-feira 16, em São Paulo, dividiram a mesa para jantar o governador José Serra, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Era um encontro que Serra gostaria de postergar, mas que acabou sendo inadiável depois que o governador mineiro, Aécio Neves, em entrevista à ISTOÉ, assumiu publicamente que é candidato a presidente do Brasil. Nas conversas particulares entre os líderes tucanos, Aécio já vinha defendendo sua candidatura, mas Serra e outros caciques do partido ainda apostavam que fosse possível convencer o mineiro a compor uma chapa encabeçada pelo governador paulista, sem que houvesse uma disputa interna no ninho tucano.

Depois de se colocar como alternativa à sucessão de Lula, o quadro mudou. No jantar, Guerra pediu o apoio de Serra à realização de prévias no partido e afirmou que Aécio não estava disposto a abrir mão da disputa interna. "Depois que Aécio confirmou à ISTOÉ que será candidato, eu não posso deixar de submeter o nome dele ao partido", disse Guerra.

O PMDB, uma alternativa para Aécio, aguarda o desenlace da disputa tucana para se posicionar. Na ala ligada ao presidente do Congresso, José Sarney, a confirmação da candidatura Aécio foi comemorada. Sarney não esconde sua admiração pelo governador de Minas Gerais e já lhe prometeu apoio. Segundo o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, as portas do partido estão abertas para Aécio. Mas, argumenta ele, o PMDB vai aguardar os próximos capítulos da briga tucana. "Tem a questão do timing. Agora depende mais do Aécio do que da gente", disse. De qualquer forma, o PMDB recebeu com entusiasmo a realização das prévias. "É uma disputa sadia, gente muito habilitada, muito qualificada, ensejará um bom debate à campanha presidencial", afirmou o presidente nacional do PMDB, Michel Temer.

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Diante da pressão de Aécio, FHC e Serra foram obrigados a concordar com as prévias. "Não serei contra prévias para escolha de candidatos, quando não houver consenso sobre nomes", resignou-se Serra. O governador paulista chegou a dizer que nunca havia sido contra prévias e que a versão de sua resistência seria um "belo factoide". Serra afirmou, porém, que deve haver o prévio compromisso de que o derrotado permaneça no partido e se empenhe na campanha do vencedor. O temor de Serra é de que, caso seja derrotado, Aécio busque outra legenda. Para evitar isso, os tucanos ligados ao governador paulista planejam arrastar o processo até o final do ano ou início de 2010, depois de esgotado o prazo para troca de legenda. Serra teme que parte do PMDB possa ajudar Aécio a fazer filiações pelo País afora. O PSDB já fez uma consulta ao TSE sobre as regras para as prévias eleitorais (leia quadro abaixo). A expectativa da legenda é que o tribunal se pronuncie até março. Alinhado a Serra, o presidente do PSDB paulista, José Henrique Reis Lobo, diz que antes das prévias é preciso pensar no recadastramento de filiados. "As informações de que dispomos hoje sobre os nossos filiados estão defasadas e acreditamos que, com o recadastramento, o partido poderá fazer um trabalho mais correto e que reflita melhor os sentimentos das bases partidárias. As prévias pressupõem a participação dos filiados e, na medida em que se têm dificuldades para identificá-los e contatá-los, o resultado poderia não refletir a vontade exata do partido", ponderou Lobo.

O PSDB tem pressa porque está pressionado pela movimentação do presidente Lula para alavancar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff . A oposição acusa Dilma de fazer campanha fora do prazo legal. Ela nega, mas acabou mesmo, na prática, antecipando a disputa. Na quarta-feira 18, o DEM entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral contra a reunião nacional de prefeitos promovida na semana anterior pelo Palácio do Planalto, na qual os alcaides levaram para suas cidades fotos-montagens ao lado de Dilma e Lula. O DEM se baseou em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siaf) que mostram um gasto cinco vezes maior para organizar o evento do que o admitido pelo governo federal. Foi desembolsado mais de R$ 1,3 milhão. O TSE dirá se, além de precoce, a campanha de Dilma está sendo paga pelo bolso errado: o do contribuinte.