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“Em casa, celebramos tanto as
festas cristãs quanto as muçulmanas”

Rima Fakih, Miss EUA 2010

Mal colocou a coroa, Miss Estados Unidos 2010, Rima Fakih, uma economista de 24 anos nascida no Líbano, já sentiu o peso do preconceito da parte conservadora da sociedade americana nestes tempos de guerra ao terror. Na manhã da terça-feira 18, um dia após à coroação, Fakih começou a ser bombardeada por uma série de acusações sobre sua conduta nos tempos de estudante e uma suposta ligação de sua família com o Hezbollah, o grupo armado xiita nascido após a invasão do Líbano por Israel, em 1982.

Na internet, pipocaram fotos de Rima com trajes sumários e poses para lá de indescentes para uma parcela considerável do público americano. As fotos em questão foram feitas quando ela disputou um concurso de danças eróticas em uma das centenas de clubes de strip tease da cidade de Detroit, do estado americano de Michigan. Na época, Rima Fakih participava de um campeonato de pole dance – performance onde belas garotas deslizam sobre um cano mostrando elasticidade, ritmo e, invariavelmente, algo mais. Não demorou muito para que analistas de concursos de misses argumentassem que esta “mácula” não poderia constar no currículo da mulher que representaria os Estados Unidos no Miss Universo.

Não se passaram nem 24 horas para as acusações saíssem do campo moral para o político. Por conta de suas origens libanesas, Rima Fakih foi acusada de ser apoiada financeiramente pelo Hezbollah pela advogada e espécie de porta-voz dos ultraconservadores Debbie Schlussel. De origem judaica e dona de um blog bastante popular nos Estados Unidos, Schlussel chegou a afirmar que Rima era uma defensora das atividades do grupo armado. “Fontes de inteligência confirmam que pelo menos três parentes de Fakih são atualmente dirigentes do Hezbollah, e que pelo menos oito membros de sua família foram terroristas do grupo nas últimas guerras entre Israel e Líbano”, escreveu a advogada em seu site sem divulgar a origem das informações a que afirma ter tido acesso.

Natural de Srifa – cidade localizada à 85 quilômetros de Beirute –, Rima chegou aos Estados Unidos com sua família quando tinha sete anos e se auto-define como libanesa, árabe ou árabe-americana. Ao que indica sua biografia, ela não tem ligação com o Hezbollah, apesar de, junto de sua família, visitar anualmente a cidade natal. Apesar da formação católica, ela não comenta com clareza sua religiosidade. “Em casa, celebramos tanto as festas cristãs quanto as muçulmanas”, explicou Rima.

A “terrorista de biquíni”, como foi chamada pelos simpatizantes de Schlussel, não comentou o assunto por julgá-lo insensato. O mesmo, até agora, tem sido feito pelas agências de Inteligência e Segurança americanas, que recusaram se a comentar o caso. Ao que parece, o crime de lesa pátria neste caso teve como principal vítima o bom senso.