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MÃO NA MASSA
Cada sítio chega a abrigar até 200 turistas por temporada

A rotina não se compara às cenas perigosas vividas no cinema por Indiana Jones, que se depara com caveiras, enfrenta cobras e luta contra conspiradores. Tampouco os objetos buscados se igualam à arca perdida que contém os dez mandamentos de Moisés ou ao mítico Santo Graal. Mas é possível sentir o gostinho da aventura de entrar em sítios arqueológicos bíblicos de verdade e ser arqueólogo por alguns dias, participando de escavações como um turista. A alta temporada para os “arqueoturistas” começa agora, no verão no Hemisfério Norte, e os locais de visitação se concentram basicamente no Oriente Médio. Localidades onde Jesus protagonizou milagres, onde nasceram os apóstolos e onde Davi venceu Golias fazem parte dos roteiros.

Não é necessário ser profissional ou estudante de áreas como arqueologia, antropologia ou história. Qualquer pessoa a partir de 16 anos pode integrar grupos de escavação. O trabalho é duro e consiste basicamente em cavar, carregar cestos de terra e cacos e limpar as peças encontradas, bem como assistir a palestras a respeito do tema estudado. Mas é recompensador para quem quer conhecer a história além dos livros. “Estar na escavação me fez experimentar uma cultura de milhares de anos atrás como se hoje ela ainda estivesse viva”, diz o americano Christopher Davidson, 32 anos, estudante de direito e soldado. Ele é morador de Boston, nos Estados Unidos, e esteve em Tel Dor, em Israel, um importante sítio na costa do Mar Mediterrâneo, entre Tel-Aviv e Haifa.

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“Estar na escavação me fez experimentar
uma cultura de milhares de anos atrás”
Christopher Davidson, estudante de direito

O Brasil não tem agências especializadas em turismo arqueológico bíblico. Mas é possível comprar pacotes no Exterior. A maior entidade deste ramo no mundo é a americana Biblical Archaeology Society (Sociedade de Arqueologia Bíblica), que lança programas anualmente – ela se refere aos turistas como voluntários. Este ano, são cerca de 30 opções, entre Israel e Jordânia. Mas também há sítios na Bulgária, na Itália e na Espanha. As inscrições na Sociedade custam cerca de US$ 50 e o preço das viagens varia entre US$ 250 e US$ 3.500, dependendo do local, do tempo de permanência e do que está incluído. As universidades responsáveis pelo trabalho in loco acompanham os “arqueoturistas”. Cada sítio chega a abrigar 200 voluntários numa temporada. O Archaeological Institute of America (Instituto Arqueológico da América) também promove viagens às regiões de escavação, mas, nos programas, os turistas não colocam a mão na massa e apenas visitam os sítios. O diferencial desses roteiros em relação aos pacotes turísticos regulares é o interesse arqueológico do grupo e o acompanhamento de profissionais da área durante toda a viagem.

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O arqueólogo brasileiro Jorge Fabbro, especialista na Síria e na Palestina, fez três viagens para Israel como “arqueoturista”. “É uma aventura deliciosa”, diz ele. Na primeira vez, em 2005, esteve em Tel Dor, na costa mediterrânea; em 2006, em Mejiddo, um vale ao norte de Tel-Aviv; e em 2008, em Jerusalém. Ele lembra da emoção de ter encontrado um fragmento de uma banheira assíria de pedra em Tel Dor, uma evidência do domínio assírio na Palestina no século VIII a.C. “O prazer de trazer à luz um objeto que esteve enterrado por quase três milênios é indescritível”, conta ele. Fabbro diz que as viagens propiciaram a ele a oportunidade de trocar experiências, de conhecer pessoas de vários lugares do mundo e de se aprimorar no seu ofício. “O contato com o solo, o ar, a temperatura, os odores, as cores, os cenários onde ocorreram os fatos são fundamentais para entendê-los”, acredita o arqueólogo.

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“O prazer de trazer à luz um objeto que esteve
enterrado por quase três milênios é indescritível”
Jorge Fabbro, arqueólogo

Os “arqueoturistas” são considerados peças relevantes para a sustentabilidade dos programas. Não só pelo suporte financeiro às escavações, mas também porque ajudam a ampliar a consciência sobre a importância das heranças arqueológicas. É uma forma de preservar os sítios, uma vez que as visitas acabam incentivando a criação de leis de proteção e o combate aos saques. A história sai ganhando.


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