copa_orgulho_01.jpg. A Alemanha abre o placar diante da Suécia na vitória de 2 a 0 pelas oitavas-de-final. O grito de gol sai em coro das vozes de 15 mil pessoas diante de um telão gigante em Colônia. O som atravessa o rio Reno, um marco da cidade. Do outro lado, quem está no carro põe a bandeira para fora. Dos apartamentos, ouvem-se gritos em preto, vermelho e amarelo. Não é apenas a euforia da bola no fundo da rede – vive-se de Munique a Hamburgo um instante especial. “Já não temos vergonha de nossa história nem tampouco medo de dizer que somos alemães”, disse a ISTOÉ a enfermeira Dana Honeyartt, pouco mais de 30 anos. “Talvez os mais velhos pudessem explicar melhor o que é sair às ruas com bandeiras e sem culpa”, resume. É a virada de uma nação que, desde a Segunda Guerra, sempre teve receio de se olhar no espelho, com medo de enxergar o nazismo de Hitler. Há quem compare o atual momento com a celebração de 9 de novembro de 1989, na queda do muro de Berlim. Mas, como atesta a revista Der Spiegel, naquele ano os alemães festejavam consigo mesmo – agora festejam com o mundo. “Não há povo que tenha se transformado tanto nos últimos 60 anos”, diz Andrei Markovits, titular de uma cátedra de Estudos de Futebol na Universidade de Dortmund.

 

Toooooooooor

Mas nem todas as feridas estão fechadas. Os donos de um restaurante italiano em Kronberg, bela cidade nas cercanias de Frankfurt, habituaram-se a pôr diante da entrada do lugar um bonequinho de vodu, espetado como manda a tradição. A cada partida, lá estava o personagem com a camisa da equipe que deveria perder. No jogo Alemanha e Polônia, é natural, despontou um polonesinho pendurado na porta. Informada da brincadeira, uma professora de alemão do Instituto Goethe irritou-se: “Isso passa dos limites, não tem graça.” A Copa do Mundo, independentemente de ressalvas como essa e da posição em que o país ficará na competição, já mudou o humor alemão. Deu ao país um novo rosto, mais alegre e cosmopolita, menos desconfiado do passado. “O futebol permite que os torcedores conheçam um país mais leve”, diz Jurgen Klinsmann, o treinador da Alemanha. O zagueiro Metzelder, na simplicidade de seus 26 anos, criou uma bela metáfora: “A mácula do nazismo está na nossa cabeça, mas devemos enfrentá-la, viver sem preconceito e de maneira mais agradável. E podemos jogar futebol assim também.”