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O diretor franco-polonês Roman Polanski tem uma vida assombrada por fantasmas. O primeiro deles diz respeito ao nazismo. Nascido em 1933, ele é judeu e passou a infância na Polônia sob a ocupação alemã. Conseguiu fugir do gueto de Cracóvia, mas nunca mais viu a sua mãe, morta em Auschwitz. Essa dor o perseguiu por muitos anos e foi, de certa forma, amainada com o filme “O Pianista”, que retrata um judeu que escapa do extermínio. Outro fantasma do cineasta era o assassinato de sua primeira mulher, a atriz americana Sharon Tate – foi morta em 1969, grávida de oito meses, por integrantes de uma seita satânica. Polanski fez a catarse de mais essa tragédia pessoal no filme “Macbeth”, uma sanguinolenta adaptação da peça homônima de William Shakespeare. Em seu mais recente trabalho, o fabuloso thriller político “O Escritor Fantasma”, que estreia no Brasil na sexta-feira 28, um ex-primeiro-ministro britânico se encontra nos EUA quando explode a notícia de que ele teria sido autor de crimes de guerra. Durante a cruzada contra o “eixo do mal”, o político teria mandado torturar e entregar à CIA um grupo de suspeitos de terrorismo. Se voltar à Inglaterra, pode ser julgado e preso. Trata-se de uma situação idêntica à vivida por Polanski desde que fugiu dos EUA em 1978, acusado de praticar “relações sexuais ilegais” com uma garota de 13 anos. Desde então ele evitou os países que têm um tratado de extradição com a Justiça americana, até que em setembro do ano passado foi preso ao desembarcar em Zurique, na Suíça, onde receberia um prêmio pelo conjunto de sua obra no festival da cidade.

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Polanski se encontra em prisão domiciliar no seu chalé, Milk Way (Via Láctea), localizado em Gstaad, nos Alpes Suíços, e usa uma tornozeleira eletrônica. Os movimentos em sua defesa pipocam, sem sucesso. A primeira petição se deu ainda durante o festival de Zurique e reuniu centenas de assinaturas de cineastas como Bernardo Bertolucci, David Lynch, Wim Wenders e o brasileiro Walter Salles. Pedia a sua libertação imediata, argumentando que a Suíça é um território neutro. Polanski, aliás, tem sua segunda residência no país e nunca havia sido importunado pela polícia – seu domicílio oficial é um amplo apartamento na avenue Montaigne, em Paris, um dos endereços mais caros da cidade. Como é cidadão francês, as manifestações a seu favor são mais intensas por lá: a voz mais ativa tem sido a do filósofo Bernard-Henri Lévy, que divulgou em seu site no início do mês uma carta aberta do cineasta. Ao mesmo tempo, a atriz e cantora Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski (eles têm dois filhos, Morgana e Elvis, de 16 e 11 anos, respectivamente), quebrou o silêncio. “Aquela era uma época de loucuras, as pessoas tinham outra relação com as drogas e com a liberdade sexual”, disse em entrevista. Esse é também o mote da petição lançada na semana passada no Festival de Cannes pelo diretor Jean-Luc Godard: não tem cabimento julgar uma pessoa duas vezes. Enquanto isso, uma queda de braço se dá entre a Justiça suíça e a americana: os EUA se recusam a julgar Polanski à revelia (sem a sua presença) e a Suíça segura a sua extradição. De sua parte, a vítima, Samantha Geimer, hoje casada e mãe de três filhos, teve negado o seu pedido de encerramento do caso.

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SUSPENSE
Ewan McGregor vive um
“escritor detetive”: thriller político

Além desse fantasma que o perturba há três décadas – agora não como vítima mas algoz –, Polanski parece ser acometido por premonições: a cobertura jornalística de sua chegada ao chalé suíço se assemelha bastante com a cena de “O Escritor Fantasma” em que o ex-governante inglês é alvo da imprensa e de manifestantes ao sair da casa em que está hospedado, numa ilha da costa leste americana. Com seu encadeamento vertiginoso, o filme é um dos melhores da carreira de Polanski. Sua trama de suspense segue os passos de um romancista, interpretado por Ewan McGregor, contratado para escrever a biografia do tal político. Ele deve reescrever, no tempo recorde de um mês, o livro que estava sendo feito por outro “escritor fantasma”, encontrado morto e tido como suicida. O novo biógrafo começa a sua bateria de entrevistas com o ex-primeiro-ministro e, nesse meio tempo, descobre um envelope pardo, pertencente ao seu antecessor, com fotos e informações do biografado. Ao checar os dados, percebe que existe uma discordância entre aquilo que o premiê diz e o que as aparências ocultam. Descobre-se, assim, em um turbilhão envolvendo o partido trabalhista inglês, intelectuais saídos da Universidade de Cambridge, agentes da CIA, empresas de armamento pesado e a cúpula dos governos empenhados na “guerra ao terror”. Só um tolo não perceberia que sua segurança está em perigo. Exatamente como Polanski não percebeu quando foi para a Suíça receber um prêmio no festival.