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ÍNDIA
Mulheres se protegem de tempestade
de areia no deserto

O fotógrafo americano Steve McCurry, 59 anos, se tornou conhecido em todo o mundo em 1985 quando a imagem de uma menina afegã, refugiada após a invasão de seu país pela Rússia, foi publicada na capa da revista “National Geographic”. A premiada foto se tornou um símbolo humanista do século XX. Após 17 anos, McCurry reencontrou a sua mais famosa retratada e revelou a sua identidade ao mundo: Sharbat Gula, já agora com 29 anos.

A carreira de McCurry foi fortemente marcada por esses dois eventos, que lhe renderam notoriedade e o convite para se tornar membro da agência francesa Magnum Photos, fundada por Henri Cartier-Bresson (1908-2004). Por trás dessa célebre história estão três décadas de trabalho e mais de um milhão de imagens captadas em diversas regiões do planeta – e parte desse acervo está pela primeira vez no Brasil na exposição “O Desassossego da Cor”, na Galeria de Babel, em São Paulo.

O seu repertório impressiona pelos retratos expressivos e pelas cores intensas que alternam momentos oníricos e instantâneos tensos feitos durante conflitos bélicos, todos eles captados por lentes que priorizam as pessoas, os seus rituais e o modo como vivem. “Desde o princípio, o meu trabalho reside em captar a expressão humana”, disse McCurry à ISTOÉ. E o princípio de tudo em sua trajetória foi a guerra. Ele esteve em conflitos no Afeganistão, no Oriente Médio, no Camboja, na Índia e no Tibete. No dia 11 de setembro de 2001, dia dos ataques às torres gêmeas em Nova York, McCurry estava recém-chegado na cidade, vindo da China. “Foi uma coincidência irônica, trágica e devastadora. Saí a campo por reflexo”, diz o fotógrafo, que registrou os trabalhos de resgate. O olhar forjado no sofrimento das guerras não se atém a esse tema. No delicado mosaico que ele recria no ambiente da exposição está o cotidiano de religiosas budistas em Rangoon, em Mianmar, no sudeste asiático, que saem em procissão levando tigelas para doação. Na tradição local, quem doa recebe um benefício divino. “Fotografei dezenas dessas procissões, mas nesse dia chovia e se formou uma bela cena”, diz McCurry sobre a foto tirada há uma década.

O fotógrafo destaca uma outra imagem que fez no deserto de Rajasthan, a noroeste da Índia, durante uma tempestade de areia. Ele preparava-se para fotografar um grupo de mulheres que transportava potes d’água quando todos foram surpreendidos por fortes ventos. Sob rajadas de areia, McCurry registrou o momento em que elas se reuniram para se proteger. Agora, ele se prepara para lançar em setembro um livro com a retrospectiva de sua carreira. Está no Brasil para a abertura de sua exposição, na terça-feira 25. Também ministrará palestras e workshops em São Paulo e depois viajará pelo interior paulista. McCurry irá fotografar uma fazenda de café, bebida que aprecia, ilustrando assim um artigo que está escrevendo para uma publicação italiana. O seu próximo destino é a Amazônia, onde pretende navegar pelo rio Amazonas e documentar o povo da floresta e a população ribeirinha. Sonho antigo: “Seguirei fazendo isso, viajando e fotografando enquanto viver.”

Steve McCurry

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