Aracy de Almeida, Elza Soares, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho – é longa a lista de sambistas com título de diva do mais brasileiro dos ritmos. Embora o reinado dessas entidades seja intocável, uma novíssima geração surge com a promessa de trilhar o caminho das nobres antecessoras. Fazem parte desse time as belas Nilze Carvalho, Roberta Sá, Juliana Diniz e um seleto grupo que chega ao primeiro trabalho levando frescor à cadência bonita do samba. Com a autoridade de quem acompanha de dentro a renovação do gênero, o compositor e pesquisador Nei Lopes dá seu aval à ala jovem. “O que elas têm de novo é o domínio da teoria musical e da técnica, tanto como cantoras como instrumentistas”, analisa Lopes.

Embora esteja no primeiro álbum, Estava faltando você, a carioca Nilze Carvalho, 36 anos, tem status de veterana. Chamada de “a rainha da Lapa” pelo próprio Nei Lopes, Nilze respira samba desde a infância graças à influência do pai, o sambista Cristino Ricardo. Com apenas nove anos, ficou conhecida como a “menina prodígio do cavaquinho e do bandolim”, se apresentando nas matinês de domingo na quadra da Portela. Ainda criança, lançou quatro discos pela série Choro de menina, da gravadora Cid. Descoberta por um empresário italiano, viajou pela Europa fazendo shows em teatros e bares. De lá foi para o Japão, onde ficou por seis anos. “Chegou uma hora que deu saudade. Além disso, eu queria estudar mais teoria musical”, conta a sambista. O difícil era conciliar os horários da faculdade – que conclui este ano – com as apresentações nas noites do Carioca da Gema e Centro Cultural Carioca, na Lapa, com sua banda, a Sururu na Roda. “Ela tem talento múltiplo, é uma cantora com dotes vocais impecavelmente cuidados e uma instrumentista com longa bagagem internacional”, festeja Nei.

Com o passaporte cheio de carimbos,
a potiguar Roberta Sá, 24 anos, é
outra sambista com agenda cheia. Na semana passada esteve em Portugal para divulgar seu primeiro álbum, Braseiro, lançado em março. Roberta ficou conhecida do grande público ao participar do reality show Fama, da
Rede Globo, chegando a semifinalista. “Descobri no programa que sou
uma cantora de MPB que canta
samba”, define-se.

Parceria – O repertório de Braseiro traz pérolas como Pelas tabelas, de Chico Buarque, A vizinha do lado, de Dorival Caymmi, e Valsa da solidão, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho. Mas abre espaço para os novos: Pedro Luís (e a Parede) compôs a faixa-título, e Marcelo Camelo, do Los Hermanos, o samba-baladinha Casa pré-fabricada. A surpresa fica por conta da participação de Ney Matogrosso em Lavoura. “Conheci o Ney na aula de pilates. Ele ouviu minha demo e nós ficamos próximos depois disso”, lembra.

Mas no quesito “só ando em boa companhia”, quem ganha disparado é a
carioca Juliana Diniz, de apenas 18 anos. Neta de Monarco e afilhada de Zeca Pagodinho, a adolescente deve lançar seu primeiro álbum em agosto e vem sendo cercada de todos os cuidados (e estratégias) pela gravadora Universal Music. Um samba inédito de Paulinho da Viola e uma composição especial assinada pela parceria tribalista de Marisa Monte e Arnaldo Antunes estão previstos no repertório. Para Hermínio Bello de Carvalho, o lançamento de tantos discos de samba atende
o desejo do público jovem. “A Lapa está mais viva do que nunca. As pessoas
querem ouvir samba”, conclui.

Eminen – Prova da tendência é a rapidez com que algumas gravadoras passaram a investir no filão. Caso da EMI, que desova nas lojas Nalanda no samba, da baiana Nalanda, participante da primeira edição do Fama. Segundo a cantora, executivos da gravadora a procuraram com a proposta de lançar uma nova Beth Carvalho. “Meu repertório sempre foi pop, mas estou adorando esse mergulho no samba”, conta Nalanda, que foi produzida por Rildo Hora e se prepara para viver Clara Nunes no teatro. Adepta das tatuagens e dos piercings, ela se autodenomina a “Eminen do samba”, em referência ao controverso rapper americano. Menos dispostas a criar polêmica são as meninas do grupo Samba de Rainha. Conhecidas das casas noturnas paulistanas, as nove garotas lançaram em esquema independente o álbum Isso é samba de rainha, só com composições próprias. “Sabe aquela história de fazer ‘um sambinha lá em casa’, só de farra? A gente começou assim”, conta a vocalista Núbia Maciel. “Toda vez que o público via aquele monte de mulheres fazendo batuque no palco achava estranho. Mas, no fim das contas, a gente coloca todo mundo para sambar.” E quem não se rende a tanto charme bom sujeito não é.