O seguro firmado entre a TAM e o Unibanco AIG deverá pagar cerca de R$ 372 milhões a familiares das vítimas do acidente do vôo JJ 3054. Receber valores no Brasil, entretanto, é um processo demorado. As famílias dos 154 passageiros do vôo 1907 da Gol, que se chocou com o jato Legacy em 2006, até agora receberam apenas o seguro obrigatório de R$ 14 mil. Foram concedidas a algumas tutelas antecipadas – remuneração mensal no valor de dois terços da renda da vítima. Apesar de a lei determinar que a empresa aérea indenize os passageiros mesmo sem ter tido culpa no acidente, a Gol propôs acordos, não considerados justos pelos parentes. Cerca de 100 famílias entraram com ação nos Estados Unidos contra a Legacy e ExcelAir e os pilotos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino. "Lá fora, o processo está na fase final e as indenizações deverão ser pagas daqui a seis meses", diz Angelita Marchi, presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Vôo Gol 1907.

Onze anos depois do acidente do Fokker-100 da TAM, que caiu nas redondezas de Congonhas e matou 99 passageiros, ainda há indenizações não pagas. "Cerca de 20 pessoas ainda não receberam", diz o advogado Luiz Roberto Sampaio, especialista em responsabilidade civil e direito aeronáutico. No Brasil, houve indenizações de R$ 800 mil. Quem fez valer seus direitos nos Estados Unidos recebeu até R$ 2,8 milhões, pois o fabricante do reverso que falhou era americano.

A advogada Sandra Assali, 50 anos, presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos, perdeu o marido, o cardiologista José Rahal Abu Assali, no acidente. Foi difícil, mas ela conseguiu reconstruir a vida. Mãe de Samir (à época com sete anos) e Rafaela (com quatro), Sandra deixou uma microempresa para cuidar dos filhos após a tragédia. E procurou uma terapia para os três lidarem melhor com a perda. "Samir já entendia o que era a morte. Foi pego em cheio. Rafaela percebeu que o pai não voltava mais de dois anos depois", conta a mãe. Samir hoje sonha em ser diplomata e acaba de passar no vestibular para relações internacionais. Rafaela cursa o ensino médio e ainda guarda um vestido que usava para passear com o pai.