Ela tem corpo esguio e cabelos escuros com corte repicado, típico das jovens modernas de Tóquio. O seu humor sofre influência do meio em que vive e das pessoas com quem conversa. Eis a japonesa Actroid Repliee Q1 que poderia passar despercebida como uma mulher comum se não fosse um pequeno, porém importante detalhe – ela tem de trocar as baterias ou dar uma turbinada em seus chips internos para existir. Mas ela é top e não está sozinha em seu reinado. Faz-lhe companhia uma outra asiática, a coreana chamada Ever-1, e juntas elas representam o topo da evolução das máquinas que esbanjam inteligência artificial e parecem gente de verdade. Que reinem felizes, porque já para o ano que vem os cientistas do Instituto de Tecnologia Industrial da Coréia (KITECH, na sigla em inglês) estão montando a Ever-2, uma robô com visão ainda mais aguçada e capaz de andar como os seres humanos. Falando em humanos, os mais impetuosos que se cuidem, ou então que aproveitem: a andróide Ever 2 terá microssensores espalhados pelo rosto que lhe darão a capacidade de paquerar.

Tudo nela está sendo projetado nos mínimos detalhes. A Ever-2 terá imagem semelhante à de uma jovem de 20 anos, 1,60 m de altura e 50 quilos. Seus circuitos eletrônicos serão revestidos com silicone, simulando a textura da pele humana. Até o movimento de pálpebras será muito mais realista. Na região do tórax, um computador funcionará como cérebro e distribuirá as funções para os diversos pontos no corpo. Para dar aos andróides a capacidade de demonstrar paixão, os especialistas lhes programam com preferências que seguem a mesma linha que se vê nos jornais em classificados do tipo procura-se companhia: alto, cabelo liso ou crespo, olhos verdes, voz rouca ou suave, e assim por diante. Através de microcâmeras localizadas em seus olhos e sensores de áudio, a máquina fará o reconhecimento das características programadas quando encontrá-las em alguém. Nesse momento, no caso da Ever-2, por exemplo, o computador central mandará comandos para os 15 receptores espalhados por sua face, permitindo que ela abra um sorriso, dê uma piscada de olho ou até tome a iniciativa para uma sutil cantada. “Esses recursos aproximam os andróides, cada vez mais, das pessoas. Eles são tão reais que por alguns minutos é possível esquecer que não passam de máquinas programadas”, disse a ISTOÉ o engenheiro Reinaldo Bianchi, professor de robótica da Faculdade de Engenharia Industrial de São Paulo.

Enquanto a Ever-2 não nasce, a sua irmã mais velha, a Ever-1, faz a festa juntamente com a prima Actroid – e as duas surpreendem seus interlocutores ao reconhecerem cerca de 500 palavras. O sucesso dessas máquinas foi tamanho que o Ministério da Informação e Comunicação da Coréia do Sul irá testar mil andróides em residências e escolas infantis, para trabalhar em tarefas domésticas, cuidar de animais de estimação e controlar pequenas centrais de vigilância. Auge da sofisticação tecnológica, esses robôs humanóides são capazes de pedir por telefone a pizza favorita de seus donos. Nesse programa desenvolvido pelo governo coreano, ter em casa uma máquina dessas custará US$ 2 mil.

A idéia de criar máquinas sensíveis não fica apenas no mundo da robótica. No embalo, cientistas britânicos estão desenvolvendo computadores que consigam “ler” o pensamento de seus usuários. Com sistema semelhante ao dos andróides (imagens captadas por microcâmeras e transmitidas para um computador central), o computador analisará uma combinação de movimentos faciais (como uma sobrancelha levantada) para daí adequar o seu sistema. Por exemplo, se você estiver de mau humor, o computador ficará sabendo através da sua expressão, e automaticamente evitará fazer coisas que lhe irritem, como travar o sistema ou executar lentamente as funções designadas. Segundo Peter Robinson, pesquisador da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, essa tal máquina servirá até para fins comerciais, alavancando as vendas via internet. “O computador irá escolher o momento emocional certo para tentar lhe vender alguma coisa. Irá reagir conforme o seu humor”, diz Robinson. Em tempo: segundo a União Internacional de Robótica, existem cerca de 1,3 mil robôs que estão sendo usados em trabalhos domésticos e nas mais diversas funções de entretenimento. Em 2008, espera-se uma verdadeira explosão populacional dessas máquinas, ultrapassando a casa de quatro milhões de unidades.