O que faz da Ferrari uma Ferrari? Quem ainda não entende por que alguns mortais são capazes de gastar R$ 1,5 milhão para ter o carro dos sonhos ficará ainda mais intrigado com o novo lançamento da marca italiana. A 599 GTB Fiorano, apresentada em março em Genebra e com chegada prevista ao Brasil em outubro, no Salão do Automóvel, reforça as características que fazem da Ferrari a machina mais espetacular de todos os tempos. Desde o mais simples parafuso até o som do motor, cada detalhe foi cuidadosamente planejado para alimentar o mito criado nas pistas por Enzo Ferrari, a partir dos anos 1930.

Como de hábito, o nome de batismo carrega uma simbologia sedutora para os amantes do estilo e da velocidade. No modelo 599 GTB Fiorano,
o número é uma alusão aos 5.999 cm3 do motor, uma evolução mais leve e mais potente do usado nos modelos Enzo Ferrari e FXX. Com 12 cilindros e 620 cavalos de potência, o propulsor é capaz de levar a Ferrari a 100 km por hora em apenas 3,7 segundos. Para ter uma idéia do que isso significa, conte até quatro – em menos tempo, ela já terá desaparecido nas curvas da estrada. A sigla GTB remete à clássica categoria Gran Turismo Berlinetta. E Fiorano é o nome da pista de testes em Maranello, onde a scuderia italiana aprimora e testa os seus bólidos da Fórmula 1. É lá que os carros de passeio dão suas primeiras voltas antes de ganhar o mundo, depois de receberem equipamentos até então exclusivos dos pilotos de corrida.

As inovações tecnológicas testadas em Fiorano são aplicadas nos modelos de passeio e o mito Ferrari é reforçado a cada lançamento. “É a mistura de tecnologia de Fórmula 1 com design, sofisticação e exclusividade que faz de cada carro uma verdadeira Ferrari”, afirma o diretor de produtos e marketing, Andrea Ferrari. A marca foi a primeira a adotar nas ruas novidades das pistas, como o controle de tração na largada e o câmbio borboleta no volante. Sem contar as inovações aerodinâmicas e de uso de materiais, como a fibra de carbono e o alumínio, que aumentam a leveza do chassi, e o carbono-cerâmica dos freios a disco.

Uma das invenções mais importantes da Ferrari é o controle do câmbio junto ao volante, que também equipa 95% dos 5.400 carros produzidos por ano em Maranello. A nova geração SuperFast da caixa de câmbio reduziu o tempo de troca de marchas para apenas 100 ms (cada unidade equivale a um segundo dividido por mil). Com os dedos na asa direita da borboleta, o motorista aumenta até a sexta marcha. Na esquerda, reduz. É o império da delicadeza.

Outra exclusividade da Ferrari é o manettino, um seletor instalado no volante para adaptar o carro às condições da estrada ou, simplesmente, ao humor do motorista. O manettino tem cinco posições que alteram automaticamente os controles de estabilidade, tração, câmbio e suspensão. Até a viscosidade do fluido dos amortecedores é alterada, tornando-os mais firmes ou mais suaves. Assim, o carro ajusta-se em frações de segundos à pista com gelo ou molhada. Basta girar o seletor para escolher o estilo de direção entre esportivo, de corrida ou radical.

Para os ferraristas mais devotados, Maranello é uma espécie de santuário a ser visitado. O ronco dos motores na pista Fiorano completa a quase bucólica paisagem, dominada pelo circuito em torno do casarão onde viveu Enzo Ferrari. Não se deixe enganar pela simplicidade da construção. Ali, respira-se pura tecnologia.

Na fábrica do cavallino, cada carro é montado de forma artesanal. O cliente pode escolher entre inúmeras combinações de cores e materiais, da carroceria aos bancos. Até a cor da linha usada no acabamento interno é determinada pelo comprador. O fino couro alemão da Fran Leather vem em peças inteiras, cortadas na hora da costura manual. Não se vê um robô nas duas linhas de montagem, de onde saem cerca de 25 carros por dia. Folhagens verdes e lírios decoram as estações de trabalho das 60 costureiras. Nas suas máquinas, há imagens da Madona de Pompéia e fotografias de crianças, maridos e namorados. E, claro, de Schumacher – até elas sonham com os ícones da alta velocidade.