Pode ser que, como disse o presidente Lula, a economia nunca tenha passado por um momento tão brilhante desde que o marechal Deodoro da Fonseca ergueu sua espada no Campo de Santana, no Rio de Janeiro. Mas a felicidade, muitas vezes, enevoa os riscos que podem destruí- la. Recentemente, o IBGE divulgou um estudo alarmante que pouca atenção mereceu de autoridades e empresários: a indústria de ponta brasileira encolheu 16% nos últimos dez anos.

Em contrapartida, o setor produtivo mais básico cresceu 9%. O perfil das exportações caminhou no mesmo sentido. Ou seja, na contramão do que fazem China e Índia, por exemplo, estamos voltando a ser fabricantes de matérias-primas, deixando para outros países o mercado de produtos mais sofisticados e de maior valor agregado.

Câmbio, carga tributária, juros – tudo isso ajuda a explicar esse desastre econômico. Mas o primordial é a paralisia do empresariado e do governo diante do assunto. Os empresários caíram em certo comodismo, já que os preços das commodities têm garantido um excelente retorno para suas operações. Por que, então, investir em máquinas e pesquisa e desenvolvimento? O governo concorda. Os saldos da balança comercial e os bons números da economia parecem dizer: "não se preocupe". Mas justamente a situação confortável cria as condições para promover mudanças sem grandes riscos de transtornos. Brasília poderia desenvolver políticas industriais que estimulassem o investimento em produtos mais avançados tecnologicamente.

Anos atrás, diante da entrada de sapatos europeus no Brasil (feitos com couro brasileiro), o governo elevou a alíquota de exportação de couro cru e reduziu a de sapatos prontos. É uma atitude mais inteligente e efetiva do que lançar pacotes de bondades para compensar a queda da exportação. Mas para que esquentar a cabeça se jamais na história deste país tudo correu tão bem?