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Quando se fala em fontes limpas e renováveis de energia, é comum lembrarmos de grandes cata-ventos eólicos, de imensas hidrelétricas de concreto ou de painéis solares reluzentes. Pouca gente sabe que outro manancial energético repousa debaixo dos nossos pés.

Quando pisamos no chão, ou passamos com o carro sobre o asfalto, estamos gerando energia mecânica, resultado da pressão do peso e da velocidade sobre a superfície. O desenvolvimento de materiais eficientes e baratos que possam transformá-la em eletricidade – chamados piezoelétricos – faz parte de uma corrida tecnológica na qual os países ricos vêm investindo pesado nos últimos anos. Agora, o Brasil entra na briga.

“Há uma concorrência mundial nessa área. Todos os países desenvolvidos estão fazendo pesquisas”, diz Elson Longo, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ele já produz em laboratório um material que promete ser mais barato do que os disponíveis atualmente. “A cerâmica piezoelétrica que se faz hoje demora de 30 a 48 horas para ficar pronta – e isso em quantidades muito pequenas”, diz Longo. “Usando outro processo, que envolve micro-ondas, conseguimos fazer o mesmo em apenas uma hora”, explica.

As pesquisas que resultaram no novo material foram lideradas pelos professores Walter Sakamoto e Maria Aparecida Zaghete, também da Unesp. Enquanto os materiais feitos hoje são uma mistura de chumbo, titânio, zircônio e cerâmica, os brasileiros substituíram o último ingrediente da receita por um polímero feito com óleo de mamona, semelhante ao plástico. “Usamos uma matéria-prima renovável e mais barata”, diz Sakamoto. No experimento realizado em laboratório, o pesquisador pressionava uma superfície com o dedo e uma pequena luz de LED conectada ao sistema era acesa. Agora, os cientistas buscam um parceiro para desenvolver um capacitor capaz de armazenar a energia gerada pela pressão.

A piezoeletricidade não é nova.
Ela foi descoberta há 130 anos pelos irmãos franceses Pierre e Jacques Currie. Desde então, é usada em sensores acústicos, câmeras fotográficas, ultrassons, microscópios e acendedores de fogão, por exemplo. As pesquisas, no entanto, se intensificaram na medida em que cresce a demanda por novas fontes energéticas. A empresa Sustainable Dance Club (SDC) tornou a tecnologia mais conhecida. Em 2008, ela abriu a primeira boate sustentável do mundo em Roterdã (Holanda).

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Nela, destaca-se o piso que transforma a pressão sobre a pista de dança em eletricidade – e que acende luzes no próprio ambiente.
Toulouse, na França, é a primeira cidade do mundo a testar a tecnologia nas calçadas de suas ruas. Segundo autoridades do município, oito módulos instalados em sua região central produziram cerca de 60 watts de eletricidade cada um, o suficiente para acender uma lâmpada. No ano passado, um supermercado em Gloucester, na Inglaterra, instalou placas piezoelétricas na entrada de seu estacionamento. Hoje, consegue produzir 30 kw/h apenas com o tráfego dos automóveis. Em 2008, em Tóquio, a empresa JR East instalou o mesmo piso em uma estação de metrô.

A energia gerada alimenta letreiros luminosos e catracas eletrônicas.
Já a israelense Innowattech, fundada em 2007, realiza experimentos com a instalação de placas piezoelétricas em estradas, trilhos de trem, pistas de aeroportos e estações de metrô. Segundo cálculos da empresa, até 20 carros passam por uma via expressa a cada minuto. Esse trânsito pode gerar 200 kw/h – o suficiente para abastecer uma casa por um mês (confira outros exemplos nesta página).

O principal problema da tecnologia é o armazenamento da energia. Hoje, ainda não existem baterias com capacidade para guardá-la. “Precisamos gastar o que é gerado imediatamente”, explica Longo, da Unesp.
Por isso, usar o recurso em um estádio de futebol, uma das próximas empreitadas da SDC em Roterdã, é inviável aos olhos do pesquisador. “Um local como esse fica ocioso na maior parte do tempo.

O custo-benefício não compensa.” Tomara que a energia de uma torcida comemorando um gol inspire os cientistas em sua busca.

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