Comportamento

Cocaína acaba com novela da vida real
Marcelo Silva, ex-marido da atriz Susana Vieira, morreu de overdose um mês depois de separação folhetinesca

Adriana Prado e Renata Cabral

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Marcelo Silva nasceu em Nilópolis, no subúrbio do Rio de Janeiro, há 38 anos. Morreu na quinta-feira 11, na garagem de um apart-hotel da Barra da Tijuca, bairro de classe média alta, por overdose de cocaína, segundo declararam sua namorada e o delegado do caso. Sua morte foi amplamente noticiada. Mas entre nascer e morrer tão precocemente e de forma trágica, Marcelo não construiu uma obra que justificasse sua fama. Ele foi soldado da Polícia Militar do Rio, da qual foi expulso, e fazia bicos como segurança. Virou celebridade ao se casar, em 2006, com uma das atrizes mais famosas da tevê brasileira, Susana Vieira, 66 anos. Os dois se conheceram quando ela desfilou na escola de samba Grande Rio e ele era segurança. O casamento aconteceu poucos meses depois. Na época, ele derramou-se: “Casei com uma mulher perfeita.” Mas, ainda em 2006, o casal chegou a se separar depois que Marcelo promoveu um quebra-quebra num motel em companhia de uma garota de programa. Em seguida, foi internado numa clínica para desintoxicação de cocaína. Susana acabou perdoando-o e eles reataram. Porém, há um mês, a atriz o expulsou de casa após receber um telefonema da estudante Fernanda Cunha, 24 anos, contando sobre o caso que mantinha com Marcelo. Deprimido, o ex-PM voltou a consumir cocaína – droga que, segundo sua psiquiatra Magda Vaissman, também professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “ele usava desde os 14 anos.” Marcelo morreu porque cheirou muita cocaína.

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Em seu enterro, na sexta-feira 12, nem Susana nem Fernanda compareceram. A atriz divulgou uma frase sobre a morte do ex-marido: “Estou triste e muito chocada. Que ele descanse em paz.” Amigos têm dado apoio a Susana, que está muito abatida. “Mas ela é forte, vai dar a volta por cima, como sempre”, disse um deles. Após a separação, Marcelo passou a viver com Fernanda no apart-hotel alugado por ela, na Barra, e a dar entrevistas exibindo felicidade. Pessoas próximas a ele, entretanto, dizem que a hipótese de voltar a ser anônimo novamente deixava-o “arrasado”. Daí para a volta às drogas, foi um pulo. Segundo o padrasto de Marcelo, Eliseu Soares, essa seria “a terceira recaída” do ex-PM em um mês. A mãe, Regina Célia, declarou apenas: “Realizei um sonho do meu filho, ele queria ser enterrado com a farda da PM.

Foi com Fernanda que ele passou seus últimos momentos de vida. Ela afirmou, em depoimento ao delegado Rafael Willis, da 16ª DP, que “ele cheirou muita cocaína” na noite que antecedeu sua morte. Segundo ela, a droga teria sido comprada de policiais no centro do Rio. A jovem se isentou completamente: disse que estava meio adormecida no carro, enquanto o namorado conversava com homens fardados e só acordou em São Conrado, na zona sul, por volta de 15h, quando entraram num motel. “Por ser de Goiânia, ela alega não saber exatamente o local onde Marcelo pegou a droga”, afirmou Willis. No motel, a universitária tentou se livrar dos papelotes de cocaína – chegou a jogar um deles na piscina –, mas o namorado guardou vários outros. De madrugada, ao acordar, encontrou Marcelo transtornado e o convenceu a irem embora, por volta de 4h. O ex-policial não permitiu que a namorada dirigisse – alegou que mulher não assumia a direção de carro dele – e usou um CD como superfície plana para distribuir e novamente inalar cocaína. As alucinações que começara a ter no motel voltaram no caminho. Ele repetia que estava sendo perseguido.

Segundo Fernanda, uma hora depois, já na garagem do apart-hotel, Marcelo começou a gritar “ele vai me matar”. O ex-PM desceu do carro e começou a andar em círculos em volta do veículo, como se estivesse fugindo de alguém. Nesse momento seu nariz teria sangrado — o que explicaria as manchas de sangue encontradas no capô, nas portas e na traseira do automóvel. Tirou as roupas, revirou o carro e sentou-se no banco do carona, agindo como se estivesse lutando com alguém. Aos poucos, se acalmou. “Te peguei”, teria dito. Fernanda, funcionários do apart-hotel e vizinhos pensaram que ele tinha dormido, enfim. Ela pediu a uma vizinha que fosse buscar a mãe do namorado, Regina Célia. Somente quando a mãe chegou e viu que o filho não estava dormindo, e sim, passando mal, foi chamado o Corpo de Bombeiros. Ao chegarem, às 9h45m aproximadamente, os bombeiros encontraram o ex-PM morto.

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Marcelo morreu por ter consumido cocaína, mas, antes mesmo do velório, familiares tentavam colocar a culpa em outras pessoas. O padrasto, Soares, disse que o enteado teria voltado a usar drogas após receber críticas de Ana Maria Braga. Durante o programa Mais Você de 24 de novembro, a apresentadora o chamou de “vagabundo” e disse que se “desaparecesse da face da Terra faria um favor a todo mundo.” Segundo Soares, Marcelo vinha sendo hostilizado desde então: “Ele ficou deprimido e humilhado. As pessoas ficavam apontando para ele.” Na sexta-feira 12, também no Mais Você, Ana Maria prestou solidariedade à família e rezou por Marcelo: “Tenho pena tanto das pessoas envolvidas quanto dele mesmo.” Há rumores de que a família processará a apresentadora, mas o advogado René Rocha negou: “No momento, isso não está decidido.” Ele diz que os familiares questionam, agora, a demora no pedido de socorro e cogitam acusar a namorada por omissão de socorro. “Ninguém normal pensaria em chamar a família antes dos bombeiros. Só ela”, diz Rocha.

Nos quase dez anos em que ficou na PM, até ser expulso em junho, Marcelo teve seu nome envolvido em polêmicas. Foi, inclusive, acusado de extorsão, sendo por isso tirado das ruas. “Ele ficava mais na guarda do quartel”, conta o coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a quem Marcelo foi subordinado no 22º Batalhão. Ultimamente, o ex-PM ganhava a vida com um serviço de transporte executivo – carros de passeio alugados como táxi. Marcelo teria colocado seu próprio carro no negócio, além do de sua mãe e os de amigos que entrariam na sociedade. O laudo que atestará a causa de sua morte ficará pronto em até 15 dias.