Comportamento

Aproveite, a felicidade é contagiosa!
Pesquisa revela que o sentimento pode ser transmitido de uma pessoa a outra e se espalhar por sua rede de contatos

Mônica Tarantino
 

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Procurar a felicidade é uma das coisas que o ser humano faz com mais persistência. E o caminho para chegar lá é assunto da literatura às bancadas de pesquisa científica. A última revelação da medicina a esse respeito é que, como um vírus, a felicidade pega. Ela se transmite de uma pessoa a outra e se expande pela rede de relacionamentos. Como uma gripe. A conclusão é de um estudo divulgado este mês pela revista acadêmica British Medical Journal. “A felicidade de uma pessoa é influenciada pela de outros indivíduos a quem ela está conectada de maneira direta ou indireta”, afirmou à ISTOÉ um dos autores do trabalho, o americano James Fowler, professor de ciência política da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.

i82052.jpgA idéia central do trabalho feito por Fowler e seu colega Nicholas Christakis, que ensina sociologia na Universidade de Harvard, é que as redes de relacionamento exercem um papel extremamente importante na propagação e na manutenção da alegria. “As emoções sofrem influência da comunidade. Constatamos que o contentamento se espalha pela comunicação entre parceiros, irmãos e vizinhos próximos. Vimos esse efeito em até três graus de relacionamento”, explicou Fowler. De acordo com os cientistas, uma pessoa tem 15% mais chances de usufruir da sensação se estiver em conexão direta com alguém nesse estado de espírito, 10% se um amigo do amigo estiver feliz e 6% se o bem-estar é gerado por um amigo do amigo do amigo. Mas as chances diminuem 7% a cada ser humano amargo que nos rodeia. Porém, nessa questão também há uma boa notícia. “A infelicidade parece ter uma capacidade bem menor de se expandir nas redes de relacionamentos”, explica Fowler.

Não é propriamente uma novidade que o contato com pessoas divertidas e alegres levanta o ânimo. Mas não se sabia que o humor de amigos dos amigos pode se propagar de algum modo pela rede de contatos a ponto de influenciar um indivíduo mais distante nessa cadeia. “É um efeito dominó. Você bate no primeiro, ele derruba o segundo e daí por diante”, diz Fowler. Para chegar a essas revelações, os cientistas estudaram as fichas clínicas de 4.739 pessoas que tomaram parte no famoso estudo feito na cidade americana de Framingham, entre 1983 e 2003. Voltado à investigação dos riscos para problemas cardiovasculares nessa população, o trabalho também avaliou a saúde mental dos indivíduos. “Submetemos essas pessoas a novos questionários sobre sua felicidade pessoal e comparamos os resultados”, relata Fowler.

Como tinham os endereços dos entrevistados, os pesquisadores jogaram essas coordenadas em um mapa e cruzaram os dados para ver se a distância física entre as pessoas contava pontos para a alegria. A resposta foi positiva. Uma pessoa tem mais chances de se sentir feliz se viver a menos de 800 metros de um amigo feliz. O efeito será menor se a pessoa morar a mais de dois quilômetros. “A freqüência do contato parece ter grande importância”, acredita Fowler.

Até agora, a situação mais favorável à transmissão da felicidade encontrada pelos pesquisadores é aquela que aproxima parceiros do mesmo sexo, idade e que atravessam situações de vida semelhantes. Em contrapartida, um ambiente desfavorável para a propagação é o do trabalho. “Isso ocorre possivelmente por causa da competitividade desse meio”, diz o cientista.

Na opinião do psicanalista gaúcho Edgar Diefenthaeler, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, uma das explicações para os achados dos pesquisadores americanos pode ser o mecanismo chamado identificação projetiva. “Indivíduos que têm bom trânsito com seus próprios sentimentos, com predomínio de sentimentos bons, podem projetá-los nos outros. E quando objetos e sentimentos bons são depositados em outra pessoa, esta se identifica com eles. O resultado é que ela se sente valorizada e feliz”, diz

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