Aparentemente, a decisão já foi tomada. Apesar dos protestos dos ambientalistas, o governo federal deverá mesmo licitar a obra para construção de duas usinas hidrelétricas do rio Madeira, que poderão vir a gerar 6,5 mil megawatts no futuro. São pelo menos R$ 20 bilhões, sem contar os custos das linhas de transmissão para trazer essa energia da Amazônia para o Centro-Sul do País. Ao defender a obra, o presidente Lula usou mais uma de suas metáforas de pescador. Ele, que comparou seu irmão Vavá a um simples “lambari”, disse que os “bagres” do Madeira não poderiam travar o progresso.

Ampliar a oferta de energia, num momento em que grandes empresas adiam investimentos com medo de apagões futuros, é um movimento louvável. A questão é que, hoje, despontam alternativas mais eficientes, mais econômicas e também mais ecológicas. Uma delas, bem embaixo do nosso nariz, é a geração de energia a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar. Estudos técnicos comprovam que seria possível ampliar em 7 mil megawatts a capacidade do sistema elétrico brasileiro com um programa de modernização das usinas. Com caldeiras e geradores novos, que poderiam ser financiados pelo BNDES, as empresas do setor, próximas dos centros industriais, poderiam rapidamente despejar toda essa energia nas linhas de transmissão.

Quem já visitou uma usina feita com tecnologia moderna também se impressiona com outro aspecto. Quase todos os equipamentos são produzidos no Brasil e grande parte vem do pólo industrial de Sertãozinho (SP), que é um dos melhores exemplos da capacidade empresarial brasileira. Lá, há várias histórias de torneiros mecânicos que se tornaram industriais de sucesso. E o presidente Lula, ele próprio um ex-torneiro, empregaria muito mais companheiros se despertasse de vez para a energia que vem da cana. Do contrário, poderá se tornar refém dos “tubarões” das empreiteiras.

Leonardo Attuch é Editor das revistas ISTOÉ Dinheiro e Dinheiro Rural