Traduzida para vários idiomas, transposta para o cinema e objeto dos mais variados estudos, a obra da escritora Clarice Lispector (1920-1977) permanece, contudo, como um enigma a ser decifrado. Homenageada pela Flip com o espetáculo de abertura, assinado por Naum Alves de Souza, e a mesa-redonda No raiar de Clarice, a autora de Perto do coração selvagem e A hora da estrela é tema de três lançamentos. Aprendendo a viver – imagens (Rocco, 128 págs., R$ 30), organizado por Teresa Montero, professora de literatura e biógrafa de Clarice, e pelo fotógrafo Luiz Ferreira, traz fotos do acervo pessoal ao lado de trechos de sua obra. Os dois restantes buscam um novo enfoque sobre seu trabalho.

Outros escritos (Rocco, 176 págs., R$ 38), também de Teresa e da escritora e roteirista Licia Monzo, reúne textos de todas as fases da carreira de Clarice, do anonimato à consagração, assim como colunas, reportagens, ensaios e conferências. Batizada Literatura de vanguarda no Brasil, a palestra proferida em 1963 na Universidade do Texas nunca havia sido publicada na íntegra – a escritora recorria a ela em diversas ocasiões em que foi convidada para falar da escrita. Outro destaque é o longo depoimento prestado ao Museu da Imagem e do Som (MIS), um ano antes de morrer. Entre os entrevistadores estava a colega Marina Colassanti, que também estará no debate em Parati ao lado do filósofo Benedito Nunes e da professora e escritora Vilma Arêas, autora de Clarice Lispector com a ponta dos dedos (Companhia das Letras, 192 págs., R$ 35).

Nascida em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia, uma das antigas repúblicas soviéticas, Clarice chegou ao Brasil com apenas dois anos. Viveu em Maceió, Recife e no Rio de Janeiro. Depois de casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem teve dois filhos, morou nos Estados Unidos e na Europa. Quando morreu, em dezembro de 1977, desfrutava de fama internacional, passando a exercer um fascínio poderoso sobre as gerações mais jovens. Tanto pela beleza invulgar como pelo estilo confessional, que exigia total cumplicidade. “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome”, escreveu, naquele estilo com que costumava encurralar os leitores.