Um laptop simples e barato, que custará
em torno de US$ 100 (cerca de R$ 240) e
será fabricado no Brasil com financiamento
do governo federal. Eis a mais nova e poderosa arma da revolução do ensino e
da inclusão digital que o governo pretende implantar a partir de 2006. O computador portátil, que fechado deverá equivaler em tamanho e peso a um livro didático, terá como alvo inicial as crianças das primeiras séries do ensino básico e foi desenvolvido pelo americano Nicholas Negroponte, diretor do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Considerado o mais importante guru da revolução digital, Negroponte apresentou o projeto na terça-feira 28 a um entusiasmado presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em audiência no Palácio do Planalto. Negroponte se surpreendeu com o apoio do presidente e dos ministérios envolvidos. “Normalmente, os políticos não se interessam pelo ensino básico, pois os resultados só aparecem muito depois”, afirmou.

O cientista ficou ainda mais satisfeito quando o ministro da Educação, Tarso Genro, confirmou que, viabilizada a fabricação dos laptops no Brasil, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) fará a distribuição gratuita do primeiro lote de um milhão de unidades dentro de um projeto piloto incorporado ao programa nacional de distribuição de livros e material didático aos alunos da rede pública.

O ministro explica que o governo federal gasta anualmente R$ 60 milhões com a compra de 30 milhões de livros didáticos para os alunos das escolas públicas estaduais e municipais. O laptop, que deverá se tornar o livro didático do futuro, entraria nesse pacote. “Não deverá haver problema em ampliar os recursos no orçamento”, diz Genro. Ele garante que, quando a fábrica estiver produzindo, o governo vai disponibilizar à rede privada de ensino as mesmas condições. “A revolução da educação e da inclusão digital tem que ser para todos”, diz.

Na prática, o périplo de Negroponte e seus parceiros, o matemático Seymour Papert, um dos maiores especialistas em educação do mundo, e a cientista Mary Lou Jepsen, ex-Intel e um dos cérebros por trás do laptop de US$ 100, rendeu ações efetivas. Por ordem do presidente, uma comissão com representantes da Presidência e de cinco ministérios foi formada para detalhar o projeto até o próximo dia 27. Além dos aspectos operacionais, a comissão vai fazer o levantamento do parque industrial de informática e componentes instalado no Brasil, para saber quais equipamentos já são feitos no País e quais teriam que ser importados.

Mary Lou Jepsen, que desenvolve a nova – e mais barata – tela de cristal
líquido afirma que, depois do projeto piloto de um milhão de laptops, a própria indústria de componentes se voltará para o Brasil. O segredo do preço baixo, segundo os cientistas do MIT, é simples. Primeiro, não se paga direito autoral
pelo uso de programas, já que a opção é pelo software livre Linux. Com um
sistema leve, também é possível descartar os caros discos rígidos com grande capacidade de armazenamento. Em vez disso, o laptop usará cartões de memória com 1 Gigabyte de capacidade. Para completar a revolução, o chip de 500 MHz
que vai servir de coração ao laptop não é Intel, e sim AMD, que é mais barato
e de eficiência semelhante. “Dos US$ 600 que um laptop custa nos EUA,
metade se refere a marketing e distribuição. Isso já fica de fora no nosso
projeto”, comenta Negroponte.

O laptop vai funcionar ligado à internet, tanto na escola quanto na casa das
crianças – sim, elas vão poder levar para casa seu computador. O Ministério das Comunicações estuda a implantação de redes interligadas nas cidades, para permitir acesso à internet aberto a todos. Para o governo, a possibilidade de o Brasil, além de se tornar o pólo de produção do laptop barato, se transformar no líder da revolução da educação e da inclusão digital é o aspecto mais importante. “Vamos fazer desse projeto uma política de Estado, que será seguida pelos demais governos no futuro”, planeja o ministro Tarso Genro.

Janela aberta: o sucesso do laptop barato poderá significar uma profunda mudança nos livros escolares. Para o professor Seymour Papert, a indústria
do livro didático “é um dinossauro que ou evolui ou morre”. Com o laptop,
as crianças terão acesso, via internet, a todo tipo de informação. O matemático
diz que professores, escolas e pais também terão que evoluir junto com as crianças. “É a liberdade do conhecimento”, comemora.