Depois de uma viagem de 173 dias em que percorreu 431 milhões de quilômetros, enfim a missão Impacto Profundo terá um encontro marcado com a morte. Se tudo sair conforme o planejado, assim que surgirem os primeiros raios da manhã de 4 de julho, um petardo feito de cobre, do tamanho de uma máquina de lavar roupa, já terá atingido o centro do cometa Tempel-1. A pancada, com a intensidade de uma bomba de 4,5 toneladas de dinamite, deve produzir uma cratera capaz de engolir o Coliseu de Roma.

O choque espetacular entre o Tempel-1 e o módulo de impacto que se desprende da sonda será acompanhado por todos os telescópios e observatórios da Terra. E pode produzir respostas e um novo olhar para a natureza e a composição desses viajantes celestes congelados a que chamamos de cometas. “Estamos tentando algo nunca feito antes, com velocidades e distâncias realmente de outro mundo”, diz Rick Grammier, chefe do projeto no Laboratório de Propulsão a Jato da agência espacial americana Nasa. Será a primeira vez que o ser humano interfere na estrutura de um cometa, mergulhando em seu coração.

Cometas são misturas de gelo, rocha e poeira, ao lado de substâncias gasosas
que formam a cabeleira e a cauda. Remanescentes da nuvem de poeira e
gás que se condensou para formar o Sol e os planetas, há 4,6 bilhões de anos,
eles são verdadeiros fósseis cósmicos. Guardam dentro de si segredos sobre
a origem do Sistema Solar.

Halley – Toda a missão será comandada a distância. A nave-robô é equipada
com instrumentos de medição e de fotografia projetados para funcionar até o
último segundo antes da colisão. Os aparelhos terão cerca de 13 minutos
para fazer imagens antes de ser alvejados por partículas vindas do núcleo do cometa. A empreitada tem dimensões enormes. “No mundo da ciência, é o equivalente astronômico a um avião 767 atropelando um mosquito”, compara o cientista Don Yeomans.

Apesar de intenso, o impacto não deve alterar a órbita do Tempel-1 nem representar um risco à Terra. Ao contrário da missão que inspirou o filme Impacto profundo, de 1998. Nessa ficção, os astrônomos descobrem que um cometa gigante está na rota de colisão com a Terra e por isso precisam alvejá-lo para alterar seu destino.

Dessa vez, os cientistas buscam examinar a composição química do Tempel-1 para reconstruir os primórdios do Sistema Solar. Assim como ocorre com as várias camadas da Terra, os pesquisadores esperam achar materiais distintos à medida que afundam em direção ao centro do cometa.

Desde a Antigüidade, esses corpos celestes brilhantes exercem fascínio sobre a humanidade. Os astrólogos interpretavam a aparição repentina de um cometa como presságio de fome, inundação ou morte de reis. Em 1910, com a chegada do Halley, houve quem tentasse ganhar dinheiro vendendo máscaras de gás aos que temiam a passagem pelo rabo do cometa.

As franjas do Sistema Solar estão infestadas por um cinto com bilhões de cometas dormentes que circundam o Sol. Por isso mesmo, as principais agências espaciais do mundo têm várias iniciativas para escarafunchar o interior desses misteriosos blocos rochosos que guardam dentro de si a memória dos primórdios do Universo.