O líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR), deve cair, no segundo semestre, nas barras do Supremo Tribunal Federal como réu de um processo de suborno e corrupção. Envolvido em esquemas de concorrências superfaturadas em todo o País, através de sua extinta empresa Eletrojan e das empresas Visatec e F. Jannani, de Faiçal Jannani, parceiro e irmão – apesar da grafia estranha do sobrenome –, o líder do PP tem seu destino nas mãos do ministro César Peluso, relator do processo que começou em 1992 em Rolim de Moura (RO), quando a Eletrojan ganhou concorrência para a instalação de 200 postes de luz na rede municipal. Surpresos com o preço de cada poste, o equivalente a um carro popular zero km, os vereadores abriram um processo de cassação do prefeito José Joacil Guimarães. Janene entrou no circuito e mandou um emissário comprar os vereadores. Seu enviado, José Aurélio Barcellos, advogado da Eletrojan, revelou-se um trapalhão. Pensando estar negociando com um vereador acessível, ofereceu o dinheiro ao presidente da Câmara, José Carlos Rasteiro, justamente o maior adversário do prefeito. Com o flagrante da prisão, o caso, depois de Janene eleito deputado federal, acabou no STF, com pedido de processo encaminhado por dois procuradores-gerais – Geraldo Brindeiro, em 2000, e Cláudio Fonteles, no ano passado. Desde 2001, deputados e senadores podem ser processados sem autorização prévia do Parlamento e Janene ficou sem o guarda-chuva que o protegeu durante dois mandatos.

Dívida milionária – Mas as dificuldades de Janene não param por aí. Na cidade de Timóteo (MG), ele e seu irmão enfrentarão, a partir desta semana, uma CPI municipal envolvendo acusações de corrupção na prefeitura, relacionadas ao pagamento de uma milionária dívida de R$ 12 milhões à F. Jannani. A obra de iluminação começou em 1994 custando R$ 3,4 milhões. Concluída em 1995, parou de ser paga e a dívida acabou na Justiça. Jannani reapareceu na cidade em 2003, quando o PT chegou ao poder com o prefeito Geraldo Nascimento. O Jornal das Cidades, de Timóteo, denuncia que na época houve uma tentativa de acordo informal sobre a dívida, então em torno de R$ 6,5 milhões, coordenada pelo procurador do município, Antônio José. Segundo o jornalista Warley Duarte, diretor do jornal, o procurador confessou, em conversa gravada, ter pedido um deságio de 20% sobre a dívida para financiar a campanha eleitoral do prefeito do PT e dele próprio, que concorreria a vereador. O negócio fracassou e os irmãos Janene e Jannani preferiram esperar a decisão judicial. Mas não perderam o hábito de exercer estranhas influências.

Versáteis, as empresas dos Janene atacam em várias siglas partidárias. Pode ser aluguel de caminhão de lixo com o PSDB em Canoas (RS) e o PT em Santo André (SP), iluminação com os petistas de Londrina (PR) ou de Timóteo (MG), aluguel de tratores na administração do PTB em Uruguaiana (RS) ou do PP em Quaraí (RS). A Visatec de Jannani desembarcou na cidade, pouco antes da eleição de 2000, cobrando R$ 84 mil por cada máquina alugada, quatro vezes acima do preço. “Nisso já está incluído o do partido. E nós mesmos fazemos o edital”, explicou Jannani, segundo o então secretário, João Carlos Gediel, hoje prefeito pelo PSDB, que rejeitou a proposta. Em Uruguaiana, o tucano Sanchotene Felice assumiu a prefeitura em 2004 com um buraco de R$ 76 milhões e apenas R$ 50 mil em caixa. Mas o prefeito anterior, João Bonotto, do PP de Janene, pagou R$ 638 mil à Visatec de Jannani pouco antes de passar o cargo. O contrato da Visatec acabou em CPI – sigla que agora persegue os Janene como se fosse um mensalão.