Na terça-feira 28, Raul Seixas faria 60 anos. A principal homenagem que poderia receber é a reedição de seus discos devidamente remixados. O pacote que a Universal está colocando nas lojas, com oito CDs selecionados e supervisionados por sua viúva, Kika Seixas, faz isso e muito mais. Traz fotos inéditas e faixas-bônus, como Caroço de manga, Loteria da Babilônia e Ouro de tolo, incluídas em Krig-há, bandolo (1973), o disco de estréia. Os outros são Gita (1974), Novo Aeon (1975), 30 anos de rock (1975), Eu nasci há dez mil anos atrás (1976) – com uma versão alternativa de Maluco beleza –, Raul rock Seixas (1977), O baú do Raul (1992) e Documento Raul Seixas (1998). Uma ótima oportunidade para conferir a qualidade real do trabalho desse artista que assumiu contornos messiânicos para seus numerosos fãs.

Raul se foi em 1989, aos 44 anos, vitimado pela ânsia de viver que o levou a consumir hectolitros de álcool. Como James Dean, que no dia 30 de setembro de 1955 arremessou seu “pequeno bastardo”, um Porsche Spyder 550 prateado novinho em folha, contra outro carro que teve a infelicidade de cruzar com a lenda. Uma lenda forjada através de três filmes, sendo que dois deles nem haviam estreado. Esse não é o caso de Raul, nem mesmo de Cazuza, Renato Russo e Cássia Eller, ídolos que se despediram no auge do sucesso e que, coincidentemente, estão sendo lembrados. O CD Cazuza – o poeta está vivo traz o show do Teatro Ipanema realizado em 1987 para o lançamento do segundo disco solo do cantor, Só se for a dois. Assim, o público ouvia pela primeira vez, além da canção-título, músicas como Nosso amor a gente inventa (estória romântica) e Solidão, que nada, entre outras. Inédita também era Brasil, em que faz o trocadilho “o nome do teu sócio? conFie eM mIm”, despercebido na época. A música só seria gravada em Ideologia, álbum lançado no ano seguinte.

Hoje, as 18 faixas de Cazuza adquirem um outro olhar quando se sabe que ele recebera naquela semana o diagnóstico definitivo da Aids. Cazuza canta a plenos pulmões, com os nervos à flor da pele. A fita do show estava esquecida em uma gaveta da Som Livre que pertencera a Ezequiel Neves, ex-funcionário da gravadora, jornalista, agitador, produtor e amigo pessoal de Cazuza, que assina a direção artística do CD. Cazuza morreria em 1990, aos 32 anos. Seis anos mais tarde, Renato Russo, compositor e líder do grupo Legião Urbana, também era vitimado pela doença, aos 36 anos. A trajetória do ídolo, da adolescência rebelde ao primeiro show do grupo, em julho de 1983, será recriada pelo diretor Antonio Carlos Fontoura e pelo produtor Luiz Fernando Borges, amigo de Renato. O filme, que já tem o roteiro finalizado e está em fase de escolha de elenco, deverá ser lançado no próximo ano. O título provisório é Religião urbana.

Inédita – Coincidentemente, Lobão, contemporâneo e parceiro desses artistas, presta homenagem a três deles em seu recém-lançado Canções dentro da noite escura. A partir de escritos deixados por Júlio Barroso, o jornalista, poeta e roqueiro, fundador da Gang 90 e as Absurdettes, falecido em 1982, Lobão compôs Quente e Não quero o seu perdão – esta com Taciana Barros, companheira de Júlio. O primeiro dos textos foi escrito 24 horas antes de Júlio despencar por uma janela. Outra letra inédita, agora de Cazuza, resultou na pungente Seda. Lobão ainda dedica a delicada Boa noite Cinderela à amiga Cássia Eller, que não sobreviveu a uma sucessão de paradas cardíacas em 2001, aos 39 anos.

A vida conturbada da cantora de Malandragem, aliás, composta por Cazuza, será focalizada em Apenas uma garotinha – a história de Cássia Eller (Planeta, 274 págs., R$ 35), dos jornalistas Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi, que deve chegar às livrarias na sexta-feira 1º de julho. “Resolvi abrir o livro com as circunstâncias da morte de Cássia, que é a parte mais nebulosa de sua vida”, adianta Belo. A exemplo do CD de Cazuza e a reedição de Raul Seixas, trata-se de uma homenagem nada nostálgica. Como a jornalista Mônica Figueiredo escreveu na apresentação do disco de Lobão, diante do que produziram pode-se dizer que os exagerados estão “mais vivos do que muito nego por aí”. E quem há de negar?