A partir de agosto, o governo começará a financiar as primeiras pesquisas com células-tronco embrionárias do País. Essas estruturas, diferentemente das extraídas do cordão umbilical e da medula óssea, são mais versáteis e por isso se mostram ótimas candidatas a se transformar em qualquer tipo de tecido. Em muitos países, como os EUA, os estudos com essas células não são permitidos. No Brasil, a autorização ocorreu em março, com a aprovação da Lei de Biossegurança.

Os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia oferecerão R$ 11 milhões para patrocínio das pesquisas. O dinheiro será dividido também para custear trabalhos com células-tronco adultas. Há 104 pesquisas candidatas a receber financiamento. O anúncio das contempladas será em agosto. Segundo o Ministério da Saúde, entre os objetivos das investigações está a avaliação do potencial terapêutico das células-tronco no tratamento de doenças como paralisia cerebral e enfermidades cardíacas. Além disso, alguns trabalhos também analisarão outros aspectos (compreender, por exemplo, como as células se transformam em tecidos).

Se de um lado as coisas estão encaminhadas, do outro pairam dúvidas. Uma
delas diz respeito aos procedimentos de acesso às células embrionárias. As
poucas informações constam na Lei de Biossegurança – ela estabelece que o embrião precisa estar congelado há três anos para ser doado, o que só pode
ser feito com o consentimento dos pais. Mas falta dizer como os cientistas terão acesso aos embriões.

Para a pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Biociências da USP, a falta de regras preocupa. “No Reino Unido, é preciso pedir autorização a um órgão regulador para usar as embrionárias. Aqui isso não está claro”, diz. Ela alerta para os cuidados que se deve ter com o manuseio desse material, já que o número de embriões congelados nas clínicas de fertilização não ultrapassa os três mil. “É pouco e ainda assim há risco de perda no descongelamento. Teremos de contar com o bom senso dos cientistas para que não haja desperdício”, afirma.

Segundo Roberta Wonchockier, presidente da Associação de Embriologia em Medicina Reprodutiva, nenhuma recomendação foi feita às clínicas. “Alguns pais manifestaram interesse em doar os embriões, mas querem saber detalhes sobre o manuseio”, diz. De acordo com a cientista Mayana Zats, da USP, há um grupo de pesquisadores incumbidos de fazer propostas ao Ministério da Ciência e Tecnologia para normatizar esses processos. Mas, segundo ela, as conversas ainda não resultaram em nada concreto.