Depois de 11 anos de turbulências, a Varig iniciou na última semana uma manobra de salvamento tão arriscada quanto um pouso de emergência. O conselho de administração da companhia requereu à 8ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro a recuperação judicial da empresa e foi atendido. O juiz Alexander dos Santos Macedo determinou também que as ações judiciais e execuções contra as empresas do grupo Varig (que inclui a Rio Sul e a Nordeste) sejam suspensas por seis meses. “Esse é o primeiro passo para a reconstrução da maior companhia aérea do País”, trombeteou Henrique Neves, o atual presidente da Varig. A situação, no entanto, não é nada tranqüila. A empresa terá 60 dias para apresentar um plano de recuperação financeira que seja aceito por seus credores e para obter a homologação judicial. A empresa também terá que prestar contas a um administrador judicial, a Cysneiros Vianna Advogados. “Se este plano não tiver êxito, a única saída para a empresa será a falência”, alerta Graziela Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA). “Isso é tudo o que nós não queremos.” O pedido de recuperação judicial – o primeiro a ser aceito na nova Lei de Falências – foi o gesto mais ousado do conselho de administração empossado no início de maio e presidido por David Zylbersztajn. A iniciativa surpreendeu até mesmo os integrantes da Fundação Ruben Berta, controladora da empresa, e motivou a renúncia do presidente da instituição, Ernesto Zanata.

O pedido de recuperação judicial paralisou a negociação em que a companhia aérea portuguesa TAP compraria 20% do capital da Varig. Uma nova proposta que estava prestes a vir à tona e que envolveria a empresa Iberia, da Espanha, também teve que ser adiada. Nas últimas semanas, a situação da Varig se aproximava de um ponto desesperador. A empresa não tinha como honrar várias dívidas com vencimentos de curto prazo, uma boa parte dos funcionários ainda não recebeu a totalidade do 13º salário e alguns estavam recebendo o salário mensal em até quatro parcelas. Além disso, a empresa perderia, nas próximas semanas, oito aeronaves cujo leasing não está sendo pago. Somente as dívidas com a Previdência Social e a Receita Federal giram em torno de R$ 3 bilhões. O governo é o maior credor da empresa e será o fiel da balança ao avaliar o plano de reestruturação que está sendo elaborado.

Notáveis – O novo conselho assumiu com a promessa de empenho para salvar a empresa. David Zylbersztajn, Marcos Azambuja, Eleazar de Carvalho e Omar Carneiro da Cunha entraram na empresa como um grupo de notáveis, mas com uma cláusula de êxito que lhes garantiria 5% dos negócios fechados. A presidente do SNA avalia que o atual conselho não teve bom desempenho e acredita que outras alternativas deveriam ter sido tentadas antes do pedido de recuperação judicial. “Poderiam ter alugado aeronaves de outras empresas, por exemplo. Não seria uma saída fácil, mas melhor do que a solução atual”, critica Graziela Baggio. O novo presidente da Fundação Ruben Berta, no entanto, assumiu mostrando-se afinado com os conselheiros. “Minha gestão será de alto respeito à governança corporativa, ótimo relacionamento entre o Conselho de Curadores e o Conselho de Administração”, afirmou Osvaldo Cesar Curi, sucessor de Zanata que acabou isolado ao não concordar com a transferência do controle da companhia para uma empresa controlada pelo grupo de Zylbersztajn. “A fundação quer que o conselho tenha autonomia para tomar as decisões necessárias para o processo de recuperação da empresa”, fortaleceu Curi, que é a favor da transferência do controle da Fundação Ruben Berta para um investidor ou grupo de investidores como quer Zylbersztajn. Resta saber se essa tão sonhada recuperação realmente virá. Ou se vamos assistir a mais uma queda-de-braço entre a Varig e a sua fundação.