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ACERTO NO ALVO Mateus descobriu que era alérgico a 34 alimentos.

As alergias e intolerâncias a alimentos estão aumentando. A mudança começa a ser sentida nos serviços de atendimento especializados e nas estatísticas internacionais. O Centro de Controle de Doenças, órgão do governo dos Estados Unidos, por exemplo, estima que nos últimos dez anos houve naquele país, entre as crianças, um crescimento de 18% nas alergias a ovos, amendoins, leite e soja. Aqui no Brasil, consultórios têm ficado cada vez mais cheios. "As causas dessa mudança estão sendo investigadas", observa Fábio Morato de Castro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia e coordenador do ambulatório da especialidade no Hospital das Clínicas de São Paulo. Uma das hipóteses para explicar o fenômeno é o consumo cada vez maior de produtos industrializados. O elevado número de casos vem acompanhado de uma também crescente confusão de diagnóstico entre alergia, intoxicação e intolerância alimentar. Pesquisadores da Universidade de Würzburg, na Alemanha, por exemplo, estão convencidos de que pelo menos metade dos diagnósticos de alergia alimentar é equivocada. Eles chegaram a essa conclusão depois de submeter 419 pacientes alérgicos a exames. O trabalho revelou que apenas 214 deles sofriam mesmo de alergia.

Uma das consequências das falhas de diagnóstico é a indicação de uma dieta com muitas restrições alimentares sem necessidade. E, neste caso, um erro pode levar a outros. "Se os nutrientes que a pessoa deixa de comer quando se priva de um alimento não forem repostos, o indivíduo pode desenvolver carências nutricionais sérias", alerta a nutricionista funcional Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro. A falta de atenção às verdadeiras alergias também pode deixar o paciente mais vulnerável ao aparecimento de sintomas intensos, como as complicações respiratórias, que colocam a vida em risco.

Apesar da semelhança entre sintomas, há diferenças profundas. A intolerância está associada à ausência ou ineficiência de enzimas envolvidas na digestão de certos alimentos. Uma das mais comuns é à lactose, o açúcar do leite. Corantes e conservantes encontrados em alimentos industrializados também estão entre causas frequentes. Quanto à alergia, trata-se de uma reação do sistema imunológico, que cria anticorpos contra proteínas e passa a atacá-las quando são ingeridas. Na lista dos alimentos que causam maior quantidade de alergias estão os laticínios, trigo, aveia, soja, ovo, frutas cítricas, nozes e amendoim. Já a intoxicação está relacionada à ingestão de alimentos deteriorados ou contaminados.

Hoje, há um debate sobre a melhor forma de chegar a um diagnóstico com menos chances de equívoco. Atualmente, existe uma gama de testes que inclui a exposição do paciente a substâncias que podem causar alergias. Mas o caminho escolhido pelos especialistas tem sido cruzar os testes com a história contada pelos pacientes sobre as reações que tiveram ao longo da vida. "Esse relato é indispensável para entender os resultados de exames de sangue", diz a nutricionista Daniela Jobst, de São Paulo.

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A identificação correta do problema tem grande impacto na qualidade de vida. O carioca Mateus Brito, 12 anos, por exemplo, ficou livre de enjoos e das dores de cabeça regulares que sentia e começou a emagrecer depois que descobriu ter alergia a 34 alimentos. Um teste de sangue que aponta anticorpos para até 275 proteínas contidas nos alimentos mostrou que o organismo do menino reage mal ao consumo de leite, queijo e derivados, grão de bico, tangerina, limão e outras frutas cítricas, mexilhão, linguado, ovos, glúten, mandioca e mel. Os alimentos contraindicados foram trocados por mais vegetais, frutas secas, caju, água-de-coco e carne e até outros tipos de pescado aos quais ele não apresenta sensibilidade.

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A chef Maria Cláudia tinha intolerância a glúten. Mudaram a dieta e estão bem

Outro caso exemplar é o da jovem Maria Cláudia Schaefer Guedes, 20 anos, de São Paulo. Recém-formada em gastronomia, ela se muda em março para a Inglaterra, onde trabalhará na famosa loja de departamentos Harrod’s. Isso não seria possível se não tivesse sido desvendada a origem dos sintomas que a atormentavam há quase quatro anos. Em busca de explicações para dores abdominais muito intensas, Cláudia consultou médicos de várias especialidades, foi internada por duas semanas e chegou a ouvir que devia ser tratada por psicólogos. Decidida a encontrar uma explicação para o mal da filha, sua mãe, Regina, a levou ao consultório da nutricionista funcional Lucianna Kalluf, em São Paulo. Ela descobriu que a garota tinha desenvolvido uma severa intolerância ao glúten, uma proteína presente em pães, massas e biscoitos, rapidamente substituídos por cará, inhame e mandioquinha. "Agora estou em tratamento com substâncias naturais", diz Cláudia.

Sinais parecidos, motivos diferentes

Conheça as diferenças entre intolerância, alergia e intoxicação alimentar
 
Intoxicação – é provocada pela ingestão de comida contaminada por micro-organismos ou produtos químicos. Além de ter sintomas semelhantes aos da alergia e da intolerância, a pessoa pode ter febre

Intolerância – surge quando faltam ao corpo uma ou mais enzimas para a digestão de um alimento. A reação também acontece se a enzima não funciona bem. A pessoa pode nascer com o problema ou adquiri-lo após doenças intestinais, por exemplo. Causa, entre outros sintomas, gases e dores abdominais

Alergia – é uma resposta do sistema imunológico a algum componente dos alimentos. Os anticorpos deflagram as respostas alérgicas assim que a substância entra no organismo. Os sintomas podem ser digestivos, cutâneos (vermelhidão, coceiras) ou respiratórios, como o edema de glote e a queda de pressão, que podem ser bastante graves

Fonte: Alergista Fábio Morato de Castro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia
 


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