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“Estou tentando mostrar o mistério, a impossibilidade de um retorno ao paraíso e a ideia de uma natureza perfeita.” Assim define o artista Albano Afonso a sua série “Jardins”, desenvolvida em duas exposições diferentes. A parte 1, referente ao “Dia”, esteve na galeria Arthur Fidalgo, no Rio de Janeiro, até o dia 8, e a segunda parte, “A Noite”, está em exibição na Casa Triângulo, em São Paulo. Conhecido por suas perfurações em imagens fotográficas de grandes mestres da pintura, o artista paulista trabalha a relação entre a paisagem natural e suas representações na história da arte ocidental. A pintura é, portanto, seu grande tema. “Não me desvinculo da pintura. Mesmo não pintando mais, os meus trabalhos em fotografia e instalações questionam esse tipo de enquadramento e esse vício do olhar de representar tudo através do quadro”, comenta. É essa agora a principal inquietação do artista: nas fotografias tiradas em diferentes parques e jardins ao redor do mundo, Afonso reinventa as composições pictóricas de Gauguin, Manet e Seurat.

O quadro ainda está ali, mas dessa vez o artista confecciona suas paisagens pensando na ideia do quão artificial é a separação entre o homem e a natureza. Talvez aí se justifique a escolha dos parques como tema de trabalho. Ao contrário de um retrato pintado, onde as pessoas posam e deixam ser vistas nas paisagens, a série de fotografias “Jardins” apresenta personagens que não sabem que estão sendo fotografadas ou vistas (foto). Daí como resultado o voyeurismo das imagens que parecem fundir os personagens à vegetação ao redor, como forma de libertação da pretensa isenção do olhar, algo típico das figuras científico/naturalistas de artistas como Rugendas e Humboldt, que o artista utilizou em trabalhos anteriores. Além das fotografias, duas instalações, feitas especialmente para a segunda parte da exposição, mostram uma leitura mais sombria da natureza com suas árvores e pessoas numa junção disforme que, segundo o artista, são a verdadeira realidade e o destino do homem.