O analista de pesquisas Antônio Carlos Lavareda apresentou ao PFL, na quarta-feira 5, um mapa com projeções animadoras. Mantida a tendência das pesquisas, o tucano Geraldo Alckmin estará com o segundo turno garantido. Para assegurar esse cenário, Alckmin tem atuado como bombeiro no duelo entre aliados que divergem quanto à estratégia. Bater no presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou fazer propostas de governo? O PFL, principalmente o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, defende a tese de que não é possível dar trégua a Lula e a seu partido, o PT. Alckmin e grande parte do PSDB defendem uma campanha mais programática. Para conciliar as duas linhas, o ex-governador de São Paulo acionou seus principais colaboradores. Na segunda-feira 3, reuniu-se pela primeira vez em São Paulo um grupo de cerca de 100 medalhões dos três partidos aliados (além dos tucanos e pefelistas, inclui-se também o PPS, que o apóia informalmente) para achar um meio-termo.

Os assessores de Alckmin quebram a cabeça para encontrar um discurso capaz de diferenciá-lo de Lula aos olhos do eleitor. O problema é que o presidente apropriou-se dos fundamentos do Plano Real, que garantiu a estabilidade econômica, e manteve os programas sociais de Fernando Henrique, ampliando-os. O discurso que está sendo criado dirá, porém, que Lula caiu em uma armadilha, que não permite agora que ele avance além da situação que herdou. A política de juros altos para manter a estabilidade impede que o País cresça. Na ótica dos tucanos e pefelistas, Lula não teria intimidade com as ferramentas da economia para fazer o País crescer sem comprometer a estabilidade. Esse passo seguinte na economia só pode ser dado pelo mesmo time que concebeu a primeira etapa, o Plano Real. Nas reuniões internas, esse segundo momento é chamado de “pós-Real”.

A idéia central do discurso que Alckmin planeja é dizer que não há forma de enfrentar os conflitos sociais sem que o País volte a crescer. “Nós vamos mostrar que a política social do presidente Lula, baseada no Bolsa-Família, é meramente assistencialista. A pessoa aceita porque precisa, mas ela não altera em nada a sua situação”, explica o secretário de Ciência e Tecnologia do governo de São Paulo, João Carlos Meirelles, que coordena a formulação do programa de governo de Alckmin. Ao lado de Meirelles na campanha estão vários colaboradores do governo FHC, como o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel e os ex-ministros do Desenvolvimento Sérgio Amaral, da Administração Cláudia Costin, do Trabalho Walter Barelli e da Agricultura Pratini de Morais. Uma das idéias propostas pela equipe tucana é criar programas de geração de empregos a partir do mesmo cadastro do Bolsa-Família, de modo a garantir que pelo menos uma das pessoas em cada casa consiga um trabalho.

Resolvido o que propor, a estratégia segue por onde e como bater. Escolheu-se para batizar a chapa exatamente o mesmo slogan usado por Lula em 2002: “Por um Brasil decente.” A idéia é mesmo reforçar que Lula prometeu isso há quatro anos e, enredado pelo escândalo do mensalão, não cumpriu. A notícia de que Lula dobrou o valor do seu patrimônio durante o governo (passou de R$ 422,9 mil para R$ 839 mil) é um filão que será explorado. Até a agenda de campanha busca conciliar o chique tucano com o popular pretendido pelos pefelistas. No início da semana, Alckmin passeou pelos rios amazônicos ao lado do senador Arthur Virgílio. Na segunda-feira 9 e na terça-feira 10, ele vira estadista, indo a Portugal para um encontro com o primeiro-ministro, José Sócrates, e, em seguida, à Bélgica, para uma visita à sede da Comunidade Européia.

Mas conciliar os interesses de aliados, até mesmo dentro do PSDB, não é tarefa fácil. O candidato iniciou a semana declarando-se favorável à reeleição. Enquanto isso, pefelistas e tucanos fizeram andar no Senado um projeto que enterra o dispositivo que deu a FHC oito anos de mandato. Para agradar ao governador de Minas, Aécio Neves, e ao candidato ao governo de São Paulo, José Serra, que querem ter a primazia da sucessão. “Ainda nem conseguimos garantir a presença de Alckmin no segundo turno e já estamos discutindo 2010”, reclama um alto dirigente do PFL. “O que vai nos matar são essas picuinhas”, prevê.