O estrago causado pelo deputado Roberto Jefferson, na Comissão de Ética da Câmara, poderia ter sido tecnicamente minimizado, caso o governo tivesse tido outra postura em relação ao depoimento da terça-feira 14. Jefferson é um inimigo complicado, com armas afiadas através dos tempos em programas populares como O povo na tevê, em tribunais do júri – nos quais exercitou suas habilidades de advogado criminalista – e ao longo de duas décadas de Parlamento. Mestre na arte da retórica, ele encontrou diante de si uma tropa governista desarticulada. Apesar da qualidade de muitos de seus membros, claramente faltou liderança aos soldados do governo para fazer frente às manobras de um franco-atirador carregado de munição.

Não se sabe se o governo agiu assim por uma equivocada estratégia de esvaziamento ou se por incompetência mesmo. Mas o fato de não conseguir dominar o deputado petebista não é de todo ruim. O lado bom dessa tragédia, que jogou mais lama na classe política brasileira, é que ela detonou, finalmente, uma reação do presidente Lula e aparentemente o tirou das cordas em que se encontrava acuado e encurralado nos últimos meses. E lá, nas cordas, com a visão turva e se defendendo para evitar um eventual nocaute, os gritos de estímulo que vêm do córner e da platéia são às vezes tomados como vaias, numa confusão típica da paranóia ocasionada pela paralisia.

O ataque do petebista no Congresso parece ter detonado uma descarga de adrenalina no governo. O sinal visível disso é a saída do ministro José Dirceu da Casa Civil e sua ida para a trincheira avançada do Congresso. A reação do presidente da República aponta ainda para o recrutamento de uma tropa de choque para atuar na frente de batalha mais crítica atualmente, que é o Legislativo. Essa tropa, sob o comando do agora deputado José Dirceu, vai tentar organizar o caos reinante nas fileiras governistas. Para tanto, o ex-ministro terá a seu lado o senador Aloizio Mercadante, outro veterano combatente.

Mais que trocas de acusações de corrupção – que devem ser investigadas e punidas, como já anunciou Lula –, uma nova relação do Executivo com o Legislativo é fundamental para trazer o País de volta a caminhos menos conturbados e de amadurecimento político. E tudo isso é indispensável que aconteça, pelo menos, enquanto não se consegue operar a reforma política que se arrasta há décadas.


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