Numa tarde fria de São Paulo (temperatura de 16 graus, em pleno verão), os 150 integrantes do grupo musical Meninos do Morumbi esquentavam a bateria nos camarins do Auditório Ibirapuera antes de subirem ao palco da moderníssima casa de espetáculos idealizada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Na passagem de som, garotos e garotas com camisetas coloridas, cabelos enfeitados e idade entre oito e 18 anos se dividiam na percussão, cantando e dançando sob a batuta do baterista Flávio Pimenta. Isso é parte dos bastidores do espetáculo. Mas há outro bastidor: por trás da alegria contagiante desses jovens artistas está o projeto social Meninos do Morumbi, que começou há 12 anos como um pequeno grupo musical de crianças pobres e hoje dá nome a uma ampla rede que atende cerca de quatro mil jovens carentes da periferia de São Paulo. “A arte sozinha não muda a vida de ninguém”, diz Pimenta, que participa das apresentações como maestro. E, para a moçada, ele ensina: “Tem de tocar na moral e no suingue.” Claudia Dantas, 16 anos, está no grupo há seis. “A gente se emociona e chora durante o show. É forte demais”, diz ela, que este ano vai sair pela primeira vez na comissão de frente da escola de samba Mocidade Alegre. No repertório do show estão sambas como O que é, o que é (Gonzaguinha), Sampa (Caetano Veloso) e Aquarela do Brasil (Ary Barroso). Na agenda desses artistas já constam diversos shows institucionais para depois do Carnaval, a gravação de um DVD e uma viagem para um festival no México.