Roqueiros de longa data ou viram dinossauros, parodiando a si próprios, ou tornam-se clássicos, depurando cada vez mais seu canto e suas influências. O irlandês Van Morrison, 60 anos e 36 discos nas costas, se enquadra na categoria mais nobre. À parte a capa de mau gosto, Magic time (Universal Music) é um momento inspirado do cantor e guitarrista que cresceu ouvindo Muddy Waters e John Lee Hooker graças ao bom gosto musical da discoteca do pai. O blues e o soul, aliás, são as grandes fontes do CD, em faixas como Stranded, na qual, além de soltar o vozeirão moldado nos negros americanos, Morrison ainda sopra um sax alto de dar inveja. Na folk Celtic New Year, ele assume suas origens ao chorar a saudade da amada, para, em seguida, munindo-se do melhor blues, detonar a indústria fonográfica em Keep mediocrity at the bay e They sold me out, essa mais para o lamento, com direito a coro no estilo gospel. Ao contrário dos colegas jurássicos, o ex-líder da banda Them, da fase heróica do rock sessentista, não soa kitsch ao revisitar standards da canção americana em This love of mine, do repertório de Frank Sinatra, e em Lonely and blue, que fez sucesso na voz de Perry Como, as duas únicas canções que não assina.