Por mais que lhe façam salamaleques e afagos, o gênero pop está sempre associado à superficialidade de conteúdo e ao marasmo das formas de mercado. É esse o aparente véu que recobre várias músicas do novo CD do grupo mineiro Pato Fu, Toda cura para todo mal (Sony BMG). Sob a camada pop, no entanto, Fernanda Takai, o guitarrista John Ulhoa e trupe escondem ingredientes que não costumam constar das saltitantes programações das FMs. Misturados a músicas com jeitão de hits radiofônicos (Anormal, Sorte e Azar) há momentos de inquietude e originalidade – coisa rara no rock nacional, mais chegado às poses e aos sons que apenas macaqueiam seus pares americanos ou ingleses.

A batedeira do Pato Fu mistura sons à primeira vista dissonantes, como rock, brega, jovem guarda, jazz, música japonesa e ritmos latinos. O bolo que resulta dessa receita é delicioso. Há poesia pura nas letras de No aeroporto ou Boa noite Brasil, em que se narra o acesso de fúria de um asséptico locutor de tevê. Alto grau de crítica em Estudar pra quê? e Vida diet. Arranjos criativos em Amendoim – com destaque para o piano frenético de Lulu Camargo – e Simplicidade, com versos que elogiam o despojamento interiorano embrulhados sarcasticamente numa instrumentação futurista e voz robotizada. Contrastes desse tipo, aliás, não faltam no CD. Em várias faixas, palavras cortantes são acompanhadas por melodias alegres ou ternas. Numa cena em que a maioria dos roqueiros posam de rebeldes, mas fazem um som mercadológico, o Pato Fu opta pelo contrário. Posa de inocente banda pop para fazer um som instigante. Um estratagema inteligente que, algumas vezes, ultrapassa o mero jogo de paradoxos para se aproximar da pura arte.