"O homem está condenado à liberdade.” Essa frase do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre, cujo centenário de nascimento acontece na terça-feira 21, bem poderia resumir o seu perfil. Sartre foi um intelectual que mobilizou várias gerações de pensadores, muitos dos quais fizeram de seu senso libertário a bandeira para, em 1968, armar barricadas e incendiar as ruas de uma estupefata Paris. Mas, se a frase é boa, ainda é pouco para muito Sartre. Considerado um dos mais importantes nomes do existencialismo, o filósofo foi mais do que um simples guru.

Defensor incansável das liberdades do homem, Sartre foi precursor de transgressões suscitadas pelo pensamento filosófico sobre o ser e a existência e até mesmo pela própria rotina heterodoxa de sua vida amorosa junto à também escritora Simone de Beauvoir – com quem nunca chegou a dividir a mesma casa, mas de quem nunca se separou até morrer, em 1980. Toda uma geração de intelectuais engajados sonhava um dia poder sentar-se à mesa dos cafés parisienses favoritos do escritor – o Flore, o Deux Magots – e ao menos respirar o mesmo ar que influenciara obras como O ser e o nada (1943) e a fantástica trilogia Os caminhos da liberdade, composta por A idade da razão (400 págs., R$ 44), Sursis (448 págs., R$ 49)– ambas de 1945, e Com a morte na alma (384 págs., R$ 44), de 1949, que marca a reedição de suas obras, pela Editora Nova Fronteira. Na seqüência, acabam de chegar às livrarias A náusea (253 págs., R$ 32), de 1938, e O muro (218 págs., R$ 29), de 1939.

Tudo o que Sartre dizia, mesmo se não compreendido, tornava-se referência de reflexão da própria vida, adequado às mais diferentes realidades – mesmo depois de ele ter rompido com o regime soviético da antiga URSS por discordar da invasão da Hungria, em 1956, e do totalitarismo que o Partido Comunista impunha com mão de ferro. Foi, sem dúvida, o mais popular dos filósofos contemporâneos. “O inferno são os outros”, afirmou ele uma vez, fazendo da síntese de todo um pensamento um bordão repetido à exaustão para as mais diversas finalidades, até por quem nunca ouviu falar em existencialismo. Do jeito que ele gostava.


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