“(…) Foi numa noite igual a esta que tu me deste o teu coração O céu estava em festa porque era noite de São João Havia balões no ar, xote, baião no salão E no terreiro o teu olhar que incendiou meu coração” Olha pro céu (marcha junina, 1951)

Mais de meio século depois de criada, a música de Luiz Gonzaga e José Fernandes ainda serve de inspiração para as comemorações folclóricas de São João no agreste pernambucano. Diferente das festas em outras regiões do Brasil, a de Caruaru se mostra grandiosa, seja pela extravagância tamanho família das comidas típicas, como o cuscuz de três metros registrado no Guinness book (Livro dos recordes), seja pelo arraial temático, onde 150 artistas mostram o melhor do forró nordestino a 1,5 milhão de turistas brasileiros e estrangeiros, principalmente italianos, americanos e franceses. A folia ininterrupta, que vai de 4 de junho a 2 de julho, é feita sob acordes de sanfona e batidas de zabumba e triângulo. Ao circular pelas ruas enfeitadas de balões e bandeirolas, esbarra-se em personalidades como o multiinstrumentista José Tavares da Silva, o Tavares da Gaita, 80 anos, que já foi tema da festa e impressionou Elba Ramalho e Dominguinhos ao tirar som de canos de PVC, bambu e até de peças de carro.

A festa, realizada hoje num pátio de 40 mil metros quadrados, começou há 30 anos, graças a Adélia, Odília, Juraci, Eulina e Marinete, as irmãs Lira. O arraial que elas montavam na rua 3 de Maio, no centro, ficou famoso e começou a atrair centenas de pessoas. Milton Santana, atual organizador do evento, morou durante 13 anos exatamente em frente ao arraial das irmãs. “Elas começavam a preparar a festa três meses antes. Enfeitavam as ruas com bandeiras, balões, fogueiras e montavam uma pequena fazenda. Tinha até igrejinha”, lembra. A festança era prestigiada por vários defensores do cancioneiro popular, como o próprio Luiz Gonzaga, Jorge de Altinho e o Trio Nordestino.

Mania de grandeza. Talvez essa seja a melhor explicação para as atrações do São João de Caruaru, inclusive as culinárias. Os números contabilizados são impressionantes: uma tigela imensa com 500 kg de arroz-doce, um tonel de 30 metros de canjica, várias fôrmas com 1,5 mil kg de pé-de-moleque, uma pamonha de 135 kg, uma tapioca com 100 kg, um saco de pipoca com 3 metros de altura, um barril de 300 litros de mungunzá, além, é claro, do cuscuz recordista. “Isso é resultado do espírito generoso do pernambucano. A fogueira também é gigante e chega a 12 metros de altura”, afirma a recifense especialista em gastronomia pernambucana Maria Letícia Cavalcanti.

Outra peculiaridade da festa são os 12 pólos temáticos, que atendem a todos os gostos. Os mais interessantes são o das Fogueiras, para quem admira a tradição; o Olha pro Céu Meu Amor, que toca baião em homenagem a Luiz Gonzaga; e o Mamulengo, com miniparque e teatro de bonecos, especial para as crianças. Mas concorrido mesmo é o Pólo Bigode dá Nó em Cocó, para quem quer dançar forró agarradinho. “Demos este nome porque o sujeito aperta tanto a dama que o bigode pode dar nó no cocó, que é o coque feito no cabelo da mulher”, explica Milton Santana. O evento é gratuito e a diversão, garantida.