O inverno ainda não deu sinais, mas as férias de julho têm data certa e a criançada não vê a hora de ela chegar. O problema para muitos pais é que eles não podem acompanhar os filhos no descanso do meio do ano. Para não condená-los ao tédio de ficarem presos em casa ou no condomínio, os acampamentos de férias acabam sendo uma boa saída. Mas é importante que a criança conheça as regras do local e que esteja com vontade de ir. “Às vezes é preciso fazer tarefas, como arrumar a cama e manter o chalé limpo. Como são crianças de classe A, que têm empregadas para fazer isso em casa, pode ocorrer um choque. Quando o acampamento é encarado como um castigo ou uma viagem obrigatória, a integração é mais complicada”, alerta Edmur Stoppa, 39 anos, doutorando em estudos do lazer na faculdade de educação física da Unicamp e autor do livro Acampamentos de férias (editora Papirus). O contato por telefone com os pais geralmente é proibido ou limitado a curtos horários. Não adianta levar o celular para burlar a norma.

A maioria dos acampamentos abriga crianças de cinco a 16 anos, mas alguns já recebem crianças de quatro e até de três anos para passar apenas o dia. “A idade mais indicada é a partir dos cinco anos, quando a criança está um pouco mais independente e consegue manter a atenção nas atividades. Se forem muito pequenas, os monitores acabam virando babás”, diz Stoppa. Independentemente da idade, é preciso saber se o pimpolho está preparado para se afastar dos pais. “Os maiores problemas de saudade que temos não são com os menores, mas com crianças de nove a dez anos que nunca saíram de casa antes e por isso não aprenderam a lidar com esse sentimento”, conta Osvaldo Souza Leite, 34 anos, coordenador de projetos do Sítio do Carroção, acampamento paulista que existe desde 1974. Segundo os especialistas, um bom treino para que os pequenos se acostumem a sair debaixo da asa dos pais é o pernoite na casa de parentes a partir dos quatro anos.

Para Pietro Delgado, nove anos, saudade não é problema. Ele não vê a hora de ir para o English Camp, acampamento com imersão em inglês para o qual vai desde os seis anos. Foram tantas visitas que o menino até perdeu a conta: “Essa vai ser a quinta ou a sexta vez que eu vou. É muito legal porque conheci novos amigos e temos jogos diferentes, como o beisebol.” Veteranos em acampamentos, Pietro e o irmão Giovanni, 14 anos, estiveram também no Paiol Grande (em São Bento do Sapucaí, SP) e no Nosso Recanto (em Sapucaí Mirim, MG). O pai de Pietro, Eduardo Val, 42 anos, encara o acampamento como uma ótima oportunidade para o filho aprender inglês e se divertir, além de deixá-lo à vontade para viajar com a esposa, Cassia, a mãe dos meninos. Enquanto os mais velhos se divertem com as novas amizades e possíveis paqueras, os mais novos têm oportunidade de se socializar e conquistar mais independência.

Resolvido o dilema “vai ou não vai”, ainda falta escolher o melhor lugar para mandar os filhos com tranqüilidade. Stoppa chama a atenção para que o cliente não leve gato por lebre ou brincadeira por projeto pedagógico. “É preciso ver até que ponto os espaços são educativos. Às vezes, o discurso pode ser de educação, mas na prática os monitores são adolescentes fazendo bicos, sem preparo adequado para trabalhar com uma criança pequena”, alerta.